segunda-feira, 10 de agosto de 2015

A um ausente

Tenho razão de sentir saudade,
tenho razão de te acusar.
Houve um pacto implícito que rompeste
e sem te despedires foste embora.
Detonaste o pacto.
Detonaste a vida geral, a comum aquiescência
de viver e explorar os rumos de obscuridade
sem prazo sem consulta sem provocação
até o limite das folhas caídas na hora de cair.
Antecipaste a hora.
Teu ponteiro enlouqueceu, enlouquecendo nossas horas.
Que poderias ter feito de mais grave
do que o ato sem continuação, o ato em si,
o ato que não ousamos nem sabemos ousar
porque depois dele não há nada?
Tenho razão para sentir saudade de ti,
de nossa convivência em falas camaradas,
simples apertar de mãos, nem isso, voz
modulando sílabas conhecidas e banais
que eram sempre certeza e segurança.
Sim, tenho saudades.
Sim, acuso-te porque fizeste
o não previsto nas leis da amizade e da natureza
nem nos deixaste sequer o direito de indagar
porque o fizeste, porque te foste.

(Carlos Drummond de Andrade)

Ps.: Pablo Neruda disse que um verso não tem dono, ele pertence a quem precisa dele. Esse, por esses tempos agora, são meus!

domingo, 2 de agosto de 2015

Marcas que deixamos

Nós estamos condicionados a pensar que nossas vidas giram em torno apenas de grandes momentos. Todavia, os grandes momentos frequentemente nos pegam desprevenidos, e ficam maravilhosamente guardados em recantos que os outros podem considerar sem importância. E da mesma forma ocorrem com os outros momentos... As pessoas podem não lembrar exatamente o que você fez, ou até mesmo todas as palavras que você disse... Mas elas sempre lembrarão de como você as fez sentir...
(Mário Lago)

Ps.: Achei isso por aí enquanto buscava uma outra informação e achei assim, tão simples e tão profundo ao mesmo tempo... Bem a calhar para estes momentos conturbados!!!