quarta-feira, 21 de setembro de 2011

É Tempo De… – Parte VIII – Obscured By Clouds (1972)



“As recordações de um homem em sua velhice
São as ações de um homem na sua juventude
Você se arrasta na escuridão da enfermaria
E fala com você mesmo enquanto morre”

Apenas mencionar o nome Pink Floyd evoca uma paisagem inteira musical de sintetizadores, rock psicodélico, experimentações e letras filosóficas. Até hoje, 44 anos após a banda ter sido formada, a música favorita de muitas pessoas é simplesmente definida como "Pink Floyd"! Várias outras bandas tiveram sua inspiração no Pink Floyd, e pelo menos uma até tomou o nome de um álbum, obscurecida por nuvens musicais. Usando o termo “psicoclética” (junção de "psicodélica" e "eclética") pode-se muito bem descrever o disco Obscured by Clouds. Como a velha fábula dos homens cegos descrevendo um elefante, tocando apenas o seu tronco, suas pernas ou sua cauda, tomadas em pontos diferentes! O álbum possui momentos bem diferentes nas diferentes canções e pode ser descrito como de tudo, desde o rock clássico à experimentação, o retorno ao folk para, talvez, o cético em suas descrições da paisagems épicas.
Obscured by Clouds é um dos mais obscuros e substimados álbuns do Pink Floyd e foi produzido para ser a trilha sonora do filme de Barbet Schroeder, "La Vallee," sobre um grupo de hippies em busca da iluminação em um vale perdido na Nova Guiné. Foi gravado no estúdio francês Chateau D'herouville no final de fevereiro de 1972 em apenas uma semana e mixado no mês de março do mesmo ano. O disco foi lançado no Reino Unido em 3 de junho de 1972 e nos Estados Unidos em 15 de Junho. Atingiu a 5º posição em vendas no Reino Unido e a 46º nos Estados Unidos, onde foi galardoado com disco de ouro pela RIAA em Março de 1994.
Como de costume, a capa do disco foi realizada por Storm Thorgerson, amigo de longa data dos membros do grupo inglês. A arte consiste em uma imagem desfocada de um homem tentando alcançar algo em um ambiente bastante bucólico.
Curiosamente, pode-se dizer que o disco é bastante coeso, apesar do curto tempo de gravação e a produção "seca" (especialmente a bateria de Nick Mason) empresta ao álbum uma sensação de “muito apertado”. Na época foi escrito que Obscured by Clouds foi o último esforço “em grupo” da banda. Concordo plenamente com isso, visto que os próximos trabalhos foram bem individuais, geralmente trabalhos completos de Roger Waters ou David Gilmour. O álbum também mostra a banda pronta/madura e à beira do estrelato maciço e global, que se tornaria plenamente realizado com o avassalador e mais vendido (Money!!!) disco The Dark Side of the Moon (1973).
Liricamente, Roger Waters começa a refletir sobre questões que ele desenvolveria mais tarde, incluindo seu pai,  morto em combate na 2 ª Guerra Mundial (Free Four) e Dave Gilmour refere-se a ficção científica em “Childhood's End” , que é o título de um conto do clássico escritor de ficção Arthur C. Clark. Nota-se perfeitamente que Childhood's End foi gravado sem um verso final e que Roger Waters iria escrever todas as letras para o grupo seguir com o trabalho, assim, "aliviando" Gilmour desta responsabilidade. Os vocais de Gilmour, aliás, também são excelentes e ele realmente veio se transformou em um cantor muito mais confiante. Seu modo de tocar guitarra foi também bastante explorado.
Obscured by Clouds é o álbum mais injustamente ignorado na discografia do Pink Floyd. Seus instrumentais, a faixa título,  "When You're In", "Absolutely Curtains" e especialmente "Mudmen", são algumas das melhores músicas do disco e da banda, com toda a loucura do psicodelismo elevada a novos patamares. "Childhood's End", "Free Four" (a primeira canção em que Roger Waters lida com a morte de seu pai na 2ª Guerra Mundial) e "Stay" (cantada perfeitamente por Richard Wright) são canções que trazem novas abordagens paras as composições do grupo. O som, em claros transes de altos e baixos, são precursores bem ao estilo usados em obras lendárias do Floyd, como Dark Side of the Moon e Wish You Were Here. Se você gosta desses álbuns, então você deverá considerar Obscured by Clouds.
As músicas do álbum são:
Lado A
"Obscured by Clouds" (David Gilmour, Roger Waters) – 3:03
Instrumental
"When You're In" (Gilmour, Mason, Waters, Wright) – 2:30
Instrumental
"Burning Bridges" (Wright, Waters) – 3:29
Vocais: Gilmour, Wright
"The Gold It's in the..." (Gilmour, Waters) – 3:07
Vocais: Gilmour
"Wot's... Uh The Deal" (Gilmour, Waters) – 5:08
Vocais: Gilmour
"Mudmen" (Gilmour, Wright) – 4:20
Instrumental

Lado B
"Childhood's End" (Gilmour) – 4:31
Vocais: Gilmour
"Free Four" (Waters) – 4:15
Vocais: Waters
"Stay" (Wright, Waters) – 4:05
Vocais: Wright
"Absolutely Curtains" (Gilmour, Mason, Waters, Wright) – 5:52
Instrumental
Comentado e “compilando” um pouco sobre as músicas, o álbum abre com a canção homônima Obscured By Clouds. Uma faixa instrumental executada por Roger Waters e Rick Wright com os sintetizadores VCS3, com batidas repetitivas e hipnotizantes de Nick Mason e solos de guitarra estridentes de David Gilmour. Uma faixa envolta no delicioso clima que permeia todo o disco. Em seguida, outra música instrumental: When You’re In. Sintetizadores, bateria e guitarra formam um instrumental mais agitado do que o primeiro. Ótima atuação do Nick Mason com suas batidas simples, porém eficientes. A bela e melancólica Burning Bridges, primeira faixa cantada do álbum, é um dos destaques. Ótima atuação vocal de David Gilmour e Rick Wright que às vezes se revezam ou cantam em dueto, além da bonita letra composta por Roger Waters. Os tristes solos de guitarra parecem transportar o ouvinte para um local tranqüilo, isolado de tudo e de todos. The Gold It’s In The... é a composição mais agitada. Sua letra é um resumo do filme para o qual foi composta, fala da aventura em uma terra desconhecida e paradisíaca. Excelentes solos de guitarra de David Gilmour que fazem qualquer um entrar no clima de aventura expresso na música. Ótima atuação, também, de Waters no baixo elétrico. A pastoral Wot’s...Uh The Deal é extremamente agradável. Ótimo trabalho de Rick Wright nos teclados, admiráveis vocais e guitarra de Gilmour e, como já era de se esperar, maravilhosa letra de Roger Waters: “alguém mandou a terra prometida, bem eu a agarrei com ambas as mãos, agora sou o homem que está lá dentro e olhando tudo lá fora”. Mudmen é uma música instrumental com a melodia muito semelhante a da já mencionada Burning Bridges. Solos angustiados de guitarra envoltos pelos sons de sintetizadores, teclados e baixo e a bateria compassada formam a bela canção.
Childhood’s End, uma composição de David Gilmour, inicia-se com o som de sintetizador surgindo aos poucos (fade in) para, logo em seguida, dar lugar a um ótimo riff de guitarra acompanhado por teclados. Um ótimo solo “Gilmouriano” é executado na metade da música. Free Four possui um ritmo e melodia que flerta com o Country. Letra ácida de Waters que faz lembrar bastante Corporal Clegg do álbum A Saucerful Of Secrets. Foi certamente a faixa do álbum que teve mais destaque nos EUA. Ótima instrumentação. Stay é uma balada belíssima, a mais cativante faixa de Obscured By Clouds. Ótimos vocais de Wright e maravilhoso solo de guitarra com o efeito Wah-Wah de David Gilmour. Absolutely Curtains é a última música do disco, composta por sintetizadores VCS3 e percussão que cria um ambiente místico. Uma canção hipnotizadora que se encerra com cânticos da tribo Mapuga de Papua Nova Guiné.
Obscured by Clouds é um ótimo disco, um dos mais coesos da discografia Floydiana, último da fase de transição da era Barrett para a era Waters; porém esquecido até por alguns fãs da banda. O disco mostra muito do que foi o rock clássico, principalmente graças a Dave Gilmour. Sua assinatura de guitarra é deveras importante em todo o álbum, mas não ao ponto onde começa-se a perguntar se isso é mesmo Pink Floyd ou um daqueles grupos barulhentos de rock que sua mãe desaprova. Com este trabalho o Pink Floyd alcançou o ponto alto de sua maturidade musical que culminaria com os próximos discos. É um disco que a vale a pena (e muito) ser ouvido em toda a sua plenitude.

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

É Tempo De… – Parte VII – Relics (1971)




“Lembre-se de um dia anterior ao de hoje
Um dia quando você era jovem
Livre para brincar sozinho com o tempo
A noite nunca vinha”

Após o sucesso de Meddle, o Pink Floyd lança Relics, uma compilação de músicas dos últimos trabalhos do grupo até aquele momento. O disco foi editado em maio de 1971 na Inglaterra e em julho do mesmo ano nos Estados Unidos. Esta “coleção bizarra e curiosa”, como foi chamada naqueles dias conturbados dos anos 70, foi produzida como um “tapa-buraco” entre Atom Heart Mother e o ainda a ser produzido Meddle. O lançamento foi desencadeado pelo sucesso do Atom Heart Mother, que alcançou a primeira posição nas paradas britânicas. O disco foi lançado em diversos países e, às vezes, sem a devida autorização do grupo (chama o jurídico!) e teve também inúmeros incidentes ocorridos aos lançamentos. Um desses incidentes envolvia a EMI Australiana, que lançou o álbum sem o devido consentimento da banda. Isso gerou processos e levou o disco a ser retirado das lojas e, como resultado, tornou-se uma raridade para a época.
O álbum atuou como uma introdução perfeita para o grupo, especialmente quando, alguns anos mais tarde, o sucesso de Dark Side Of The Moon fez com que vários fãs voltassem para ouvir e viajar nas obras anteriores. Relics coloca os ouvintes em um devaneio de estranheza. Era difícil imaginar que este era o mesmo grupo. E, claro, em muitos aspectos, não era, pois, em seis das onze músicas do álbum o ex-líder Syd Barrett estava presente. O álbum demonstra claramente como o Pink Floyd evoluiu. Segundo Richard Wright, “esse é o som das fronteiras musicais, como relíquias raras, serpenteando através dos lados b dos compactos”.
As músicas do disco são:
1 "Arnold Layne" 2:56 Compacto (1967)
2 "Interstellar Overdrive" 9:43 The Piper at the Gates of Dawn
3 "See Emily Play" 2:53 Compacto (1967)
4 "Remember a Day" 4:29 A Saucerful of Secrets
5 "Paintbox" 3:33 Lado B do compacto "Apples and Oranges" (1967)
6 "Julia Dream" 2:37 Lado Bdo compacto "It Would Be So Nice" (1968)
7 "Careful with That Axe, Eugene" 5:45 Lado B do compacto "Point Me at the Sky" (1968)
8 "Cirrus Minor" 5:18 Música do filme More
9 "The Nile Song" 3:25 Música do filme More
10 "Biding My Time" 5:18 Música não lançada anteriormente
11 "Bike" 3:21 The Piper at the Gates of Dawn
Até o lançamento mais definitivo, Relics era mais conhecido pela  inclusão de Syd Barrett nas músicas, "Arnold Layne" e "See Emily Play", bem como a três outras músicas “lado b”. As versões de "Paintbox", "Julia Dream" e "Careful with That Axe, Eugene" foram meio que remixadas em estéreo. O álbum também incluía uma música inédita de composição de Roger Waters, "Biding my time", que foi ouvida pelo público ao vivo somente como parte da seqüência do concerto "The Man and the Journey". As outras músicas lançadas anteriormente em outros álbuns são idênticas às suas versões originais.
Relics é sólido o suficiente para ser um álbum do Pink Floyd. Mas a óbvia ausência de Syd Barrett em algumas faixas acaba com essa ilusão. A variedade da música, contudo, não seria realmente importante, pois o grupo era conhecido por fazer álbuns musicalmente desarticulados na época. Três das canções são de Barrett, duas das quais são individuais: “Arnold Layne” e “See Emily Play”. Ambas são canções psicodélicas, relativamente coerentes em relação ao material Barrett posterior. A outra é o resultado de muito ácido e uma imaginação criativa infantilmente. “Bike” é uma canção incrivelmente engraçada com efeitos de som estranhos e até mesmo letras estranhas.
A capa do álbum foi desenhada pelo baterista Nick Mason, e segundo ele é o único produto concreto de seus anos na escola de arquitetura na Regent Street Polytechnic.
Além das variações sobre o projeto original, o álbum foi lançado em vários países com diferentes capas. O rosto de quatro olhos sobre a capa original do álbum dos EUA foi um abridor de garrafas antigas. Quando o álbum foi lançado em CD, o ex-parceiro Hipgnosis Storm Thorgerson tinha uma versão real da engenhoca na capa que fez e que apresentou a Mason. Ela ainda existe e está no escritório de Mason. Ambos Thorgerson e seu assistente, Peter Curzon, surgiram com a ideia depois de ver a escultura da cabeça que tinha sido construído por John Robertson, que apareceu no álbum The Division Bell.
Portanto meus amigos, se vocês querem ouvir músicas mais antigas ou amostras reais do som do Pink Floyd ou mesmo obter um punhado de lados b e raridades, como “Paintbox” ou “Julia Dream”, vocês vão encontrar em Relics. O longa, “Overdrive” e a pista psicodélica “Interstellar” provavelmente não será muito atraente para todos. Eu sou fã e é decepcionante saber que existiam excelente músicas lado b que deveriam ter sido incluídas, mas novamente você tem que lembrar que a gravadora basicamente apanhou um punhado de canções em ordem cronológica variada e lançou o disco. Mesmo com todo esse pesar, é um disco recomendado para se conhecer o Pink Floyd na sua era “clássica”. As músicas no disco pronunciavam a que caminho a banda iria seguir. Relics não é uma compilação comum, é realmente agradável e com um som original. Vale a pena ouvir novamente!

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

É Tempo De.. – Parte VI – Meddle (1971)


“Caminhe, caminhe
Com esperança no seu coração
E você nunca andará sozinho
Você nunca andará sozinho”

Entre as incertezas e a busca por uma nova identidade, o Pink Floyd lança o sexto álbum de sua discografia, “Meddle”, um trabalho transitório que levaria a banda a um caminho mais sólido e coeso, rumo ao estrondoso sucesso que estaria por vir. Gravado entre os meses de junho e agosto de 1971 no famoso estúdio Abbey Road, é um disco totalmente experimental, marcando o evolucionismo do progressivo a um patamar nunca antes visto ou melhor, ouvido. O disco sempre foi muito bem cotado entre os fãs da banda, principalmente pela experimental e bem posicionada “Echoes”, uma obra-prima do rock progressivo, que em seus 23:27 mostra o entrosamento da banda em sua melhor fase, mas que acabou deixando as outras ótimas faixas do disco em sua sombra, de maneira que para muitos, “Meddle” é sinônimo de “Echoes”, o que não é verdade. Segundo David Gilmour, Meddle está entre os seus favoritos e marca também o princípio da caminhada do verdadeiro Pink Floyd. Embora existam no álbum variadas melodias, “Meddle” é considerado um álbum mais coeso do que o seu antecessor Atom Heart Mother. A capa, pra variar um pouco, trazia uma foto diferente e bem psicodélica, pois poucos conseguem visualizar o que de fato significa. É simplesmente "um ouvido embaixo d'água", que foi usado como base para o desenho final, feito por Storm Thorgerson. Só a título de curiosidade e de registro, a palavra “Meddle” significa intrometer-se ou intervir.
As duas primeiras músicas seguem uma à outra através de um efeito sonoro de vento, um estilo que voltaria em álbuns posteriores Dark Side of the Moon, de 1973, e Wish You Were Here, de 1975. A abertura do álbum se dá com “One Of These Days”, calcada na psicodelia e experimentalismo que foram a marca registrada do Pink Floyd na era Barrett. A faixa foi construída em cima da psicodélica linha de baixo criada por Roger Waters, contendo muitas experimentações sonoras à lá “prog” anos 60/70. A música ainda faz alusões à violência em sua letra composta por apenas uma frase: “One of these days, I'm going to cut you into little pieces” (um destes dias eu te corto em pedacinhos). Era a estréia de Nick Mason como "vocalista". Ela foi o único single do disco. Na edição americana o lado B continha "Fearless" e nas edições japonesas e italianas, "Seamus". A música foi resgatada pela banda na turnê do último álbum de estúdio “The Division Bell”, e pode ser conferida uma excelente versão, mesmo sem Waters, no disco P•U•L•S•E. Em seguida, David Gilmour mostra que conquistou seu espaço na banda e assume os vocais na típica floydiana “A Pillow Of Winds”, música lenta que é levada pelo violão, guitarra e a voz suave de Gilmour. Segundo o baterista Nick Mason, traz uma referência ao jogo Mahjong, que tinham se apaixonado durante a excursão promocional de Atom Heart Mother O disco segue com “Fearless”, uma das mais emocionantes faixas do disco, com belo trabalho de Gilmour e emocionante fundo vocal da torcida do Liverpool, entoando o clássico "You'll Never Walk Alone", composta por Rodgers & Hammerstein II. A canção é uma espécie de símbolo da torcida do time inglês e cantada até hoje quando jogam no estádio Anfield. Uma das faixas mais injustiçadas do Pink Floyd vem em seguida: “San Tropez” é diferente de tudo que a banda já gravou. Composta por Waters, aqui ele canta diferente do seu famoso timbre sofrido e sombrio, dando lugar a um tom mais alegre e sereno. A música possui um ritmo dançante, levado pelo violão de Gilmour e por Wright, que mostra que sua praia é mesmo o jazz num inspiradíssimo solo de piano no final. Tudo isso junto a uma levada de bateria bem simples e seca tem como resultado uma música agradável e de fácil digestão. “Seamus” é considerada por muitos a “ovelha negra” do disco. Trata-se de um blues bem simples criado em cima de latidos de um cachorro. O resultado é bem interessante mostrando mais uma das loucuras que a banda fazia e criava em estúdio. O DVD “Live At Pompeii” mostra a banda tocando e o cachorro latindo num microfone ao lado sendo segurado por Wright. Curioso, no mínimo.
O lado B do disco é inteiro ocupado pela supracitada e maravilhosa “Echoes”, a música que toda banda de rock progressivo gostaria de ter composto. Como li certa vez, “Echoes” é uma delícia de sonoridade e magicamente gostosa de se ouvir. Ela tem uma graça majestosa, enchendo cada um dos seus 23 minutos e 27 segundos com um mistério sofisticado que veio para definir tudo sobre o Pink Floyd: ligeiramente obscuro e extremamente espacial. É sem dúvidas a melhor faixa do disco e uma das melhores músicas da banda, que apesar de ser muito longa, podia ser facilmente executada ao vivo (podia e pode – esses tempos atrás assistir a um show de uma banda cover do Floyd de nome Echoes e eles tocaram Echoes, completinha). Uma de suas melhores versões pode e DEVE ser conferida, também, no DVD “Live At Pompeii”, pois retrata toda energia e entrosamento de um time muito bem treinado, com muita qualidade e vontade de jogar. A música foi criada a partir de diferentes sons elaborados por cada integrante da banda, que juntos e encaixados com a belíssima linha melódica criada por Gilmour e Wright a tornam memorável. Ela se inicia com o famoso som criado por Wright no piano, interpretado por uns como sendo um sonar, e por outros, um pingo no oceano. A partir daí a música vai crescendo aos poucos: entra a guitarra com um solo delicado, o baixo, a bateria, os vocais harmonizados pelo guitarrista e pelo tecladista, até que tudo culmina no famoso trecho que remete à trilha sonora do “Fantasma Da Ópera”. Uma mudança de andamento ocorre dando espaço a uma “jam” com influências de “reggae” e “blues” em que o órgão e a guitarra marcam presença. Tudo vai desaparecendo aos poucos e a música adquire uma atmosfera soturna e sombria, que poderia fazer parte da trilha sonora de um filme de terror. Gilmour faz a guitarra falar e gritar, criando uma sonoridade excepcional. Tudo volta quando a banda entra em cena aos poucos novamente até o retorno dos vocais. A música acaba lentamente dando a sensação de perfeição e coesão sonora. Perfeita, em todos os sentidos. Como já foi dito e não custa nada repetir: “Echoes é a música que toda banda de rock progressivo gostaria de ter composto.
Muito mais bem organizado e maduro que seu antecessor, Meddle foi o primeiro passo rumo à sonoridade ímpar que o Pink Floyd criou nos seus grandes álbuns na década de 70.