quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Tempo



Se eu ainda soubesse
Como mudar o mundo
Se eu ainda pudesse
Saber um pouco de tudo
Eu voltaria atrás do tempo
Eu não te deixaria
Presa no passado
E arrumaria um jeito
Pra você estar ao meu lado de novo
Eu voltaria no tempo
Pra voltar pra ontem
Sem temer o futuro
E olhar pra hoje
Cheio de orgulho
Eu voltaria atrás do tempo
Eu voltaria atrás
Atrás do tempo
Os nossos erros
Seriam apagados
Nossos primeiros desejos
Ressuscitados
E de novo eu voltaria no tempo
Eu não te deixaria desistir tão fácil
E não te negaria nenhum abraço
De novo
Eu voltaria no tempo
E a gente fez
Nosso futuro
Quase quebrando
O nosso mundo
O nosso mundo
Nosso mundo

Ps.: Fazia tempo que não ouvia esta música e hoje quando cheguei no escritório, ao começar a trabalhar o player entrou em modo randômico e tocou justamente ela! Sério mesmo, desejei muito, muito mesmo poder voltar para um certo dia e não ter feito algumas coisas! :~(

“O único erro de Deus foi não ter dado duas vidas ao ser humano: uma para ensaiar, outra para atuar.”
(Vittorio Gassman)

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

As Sandálias De Gandhi


A história nos é contada por C. Fadiman:
Certa vez, ao tomar um trem no interior da Índia, Gandhi tropeçou no degrau e deixou cair a sandália de seu pé direito. Neste mesmo instante, o trem começou a mover-se, e ele não pode recuperá-la.
Diante de todos os presentes, retirou a sandália do pé esquerdo e atirou-a pela janela.
- "Por que você fez isto?", perguntou um oficial inglês.
- "Ora, vamos, vamos... Uma sandália sozinha não serve para nada, nem para mim e nem para quem achar a outra que caiu do trem. Agora, o pobre andarilho que achá-las terá uma boa sandália para ajudá-lo na caminhada!"

Ps.: Muitas vezes somos tão mesquinhos, tão orgulhosos com algumas coisas que nos esquecemos que a vida pode ser muito mais simples e bonita! Existem lições que devem ficar para sempre! :)

sábado, 19 de novembro de 2011

Para Refletir

Quando você conseguir superar
graves problemas de relacionamentos,
não se detenha na lembrança dos momentos difíceis,
mas na alegria de haver atravessado mais essa prova em sua vida.
Quando sair de um longo tratamento de saúde,
não pense no sofrimento que foi necessário enfrentar,
mas na bênção de Deus que permitiu a cura.
Leve na sua memória, para o resto da vida,
as coisas boas que surgiram nas dificuldades.
Elas serão uma prova de sua capacidade,
e lhe darão confiança diante de qualquer obstáculo.
Uns queriam um emprego melhor;
outros, só um emprego.
Uns queriam uma refeição mais farta;
outros, só uma refeição.
Uns queriam uma vida mais amena;
outros, apenas viver.
Uns queriam pais mais esclarecidos;
outros, ter pais.
Uns queriam ter olhos claros;
outros, enxergar.
Uns queriam ter voz bonita;
outros, falar.
Uns queriam silêncio;
outros, ouvir.
Uns queriam sapato novo;
outros, ter pés.
Uns queriam um carro;
outros, andar.
Uns queriam o supérfluo;
outros, apenas o necessário.
Há dois tipos de sabedoria:
a inferior e a superior.
A sabedoria inferior é dada pelo quanto uma pessoa sabe
e a superior é dada pelo quanto ela tem consciência de que não sabe.
Tenha a sabedoria superior.
Seja um eterno aprendiz na escola da vida.
A sabedoria superior tolera;
a inferior, julga;
a superior, alivia;
a inferior, culpa;
a superior, perdoa; a inferior, condena.
Tem coisas que o coração só fala
para quem sabe escutar!

Chico Xavier
(Amo Amar a Vida)



Ps.: Eu tenho uma crença de que quando necessitamos de algo e acreditamos de fato que vamos ter ou que vai melhorar ou que vai acontecer, tudo conspira a nosso favor para que a gente consiga. O que precisamos fazer é apenas e somente acreditar! Só isso! Eu precisava de ler isso aí em cima! Precisava mesmo… E então fizeram chegar até mim! Obrigado, irmão! :(

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Conteúdos



Com o advento das redes sociais da vida, principalmente a tal do Facebook, as pessoas passaram a se comunicar mais, se interligando com amigos, parentes e até desconhecidos. Mesmo estando a quilômetros e mais quilômetros de distância ou então a poucos metros, com uma simples consulta ao perfil de um contato pode-se saber como está a vida do moribundo. Segundo a Wikipédia, uma rede social é uma estrutura social composta por pessoas ou organizações, conectadas por um ou vários tipos de relações, que partilham valores e objetivos comuns. Portanto, o objetivo de uma rede social é conectar pessoas com interesses em comum e COMPARTILHAR conteúdo. É isso, meu nobre amigo, COMPARTILHAR CONTEÚDO! CONTEÚDO! Porém, cada vez que acesso o Facebook o que mais vejo é uma enxurrada de besteiras conteúdo que, sinceramente, se houvesse um filtro para isso (alô Zuckerberg), iria tudo, mas tudo mesmo para o recycle bin!
Eu simplesmente não consigo entender porque cargas d’água alguém imaginaria que os seus contatos querem saber que você foi ao banheiro fazer cocô e que depois foi para o buteco na esquina comer um torresmo e tomar uma jurubeba! São contatos que não tem absolutamente nada o que dizer, mas querem estar presente e então escrevem qualquer coisa. Tipo assim:
PARTIU BANHEIRO FAZER COCÔ.
PARTIL BUTECO DO ALENCAR COM JOSECLEVERSON PARA TOMAR JURUBEBA.
Não vou entrar em detalhes dos erros de português (antes que alguém comente alguma coisa, o erro de português acima foi proposital!). Vou me atrelar ao conteúdo. Pois é, ainda me pergunto porque alguém acharia que as pessoas tem interesse em saber desses detalhes medíocres e sórdidos da vida dos seus contatos! Agora, a coisa pode ficar bem diferente quando você consegue adicionar um conteúdo a mensagem. Quer um exemplo?
Gente, fui ao banheiro passar um fax de Chicado para Boston e descobri que não posso mais comer doritos com creme de bacon! Tive a impressão que comi vidro no dia anterior!
Olá meus amigos! Eu e meu brother Josecleverson estamos indo para o Buteco do Alencar tomar uma jurubeba. Para quem não sabe a jurubeba do Alencar é a melhor da cidade. Vale com certeza os R$ 0,25 centavos! E se você ainda comer um torresminho, putz… Fantástico! Se alguém tiver a fim, aparece lá para tomar uma com a gente e ouvir o último sucesso do Júlio Nascimento!
Percebeu a diferença? No primeiro caso, eu simplesmente disse que ia fazer cocô ou então que ia a um buteco tomar beber alguma coisa. Já no segundo, eu explanei melhor a situação, colocando conteúdo e, consequentemente, enriquecendo a mensagem para quem ler o que você escreveu. Tá, tudo bem que mesmo com conteúdo, o assunto referente a “fazer cocô” não é muito interessante, mas acredite, eu conheço gente que se interessa por esse tipo de coisa e até fotografa as suas obras. Eu até já escrevi sobre isso aqui mesmo em Noites, no post chamado Epopéia de uma cagada! Bom, mas voltando ao assunto sobre conteúdo, quando as pessoas passarem a publicar coisas mais interessantes, com certeza os seus contatos também começarão a achar o autor interessante! Você já teve a dolorosa experiência de estar sentado em um bar conversando com alguém que só sabe dizer besteira e que não tem a mínima ideia do que esteja acontecendo com o mundo? Pois é, isso é péssimo. E nas redes sociais o sentimento é o mesmo quando você tem um contato que não posta nada de interessante.
Uma outra coisa que a maioria acha um porre são aqueles contatos que pensam que o Facebook é, como diz um professor amigo meu, um consultório sentimental. Vivem colocando mensagens relacionadas a amores perdidos ou achados, que procuram um grande relacionamento ou que o(a) desgraçado(a) é um(a) mother fuck! O pior é que, se a mensagem fosse diretamente para a pessoa, seria até interessante acompanhar esses casos, que a gente vê muito em novelas ou filmes. Mas o autor geralmente costuma “ocultar” o sujeito ou sujeita para o qual a mensagem foi direcionada. Então fica uma coisa assim, sem graça e sem sentido para quem ler. Pessoas mais próximas podem até saber o que está se passando pelo pobre maltrapilho, mas para todos os outros 99% de contatos, fica-se com aquele pensamento: “Porra, mas que chato isso!” É aquela máxima: muda-se o tempo, muda-se o cenário, muda-se as personagens, mas a história é sempre a mesma. Ninguém quer saber se o seu ex te deixou a ver navios ou não! O mundo anda muito ocupado para que você fique se lamentando. Qual seria a ideia por trás de postagens assim? É fazer os outros sentirem pena de você? É mostrar o seu sofrimento ao mundo? Pelo amor de Deus, estamos em 2011 e você ainda acha que isso cola? A não ser que você queira que “alguém” saiba que você agora está sozinho(a). Mas então, meu caro, seja direto e envie uma mensagem para esse “alguém”! Veja bem, não estou querendo dizer que não se deve postar nada relacionado ao amor. Não, não é isso! Pode e deve sim publicar coisas bonitas. O que estou dizendo é conteúdo, meu caro, conteúdo. Se você não tem nada de interessante para postar em relação ao seu último (ou atual) relacionamento, simplesmente altere o seu status para SOLTEIRO(A) e siga sua vida!
Pra terminar, vai uma dicazinha simples para você que se identificou com esse texto. É algo que já foi dito a muito tempo por alguma personalidade cujo nome não me recordo: “Se você não tem nada de interessante para dizer, mantenha sua boca fechada! É muito melhor ficar em silêncio e deixar que outros pensem que você é um imbecil do que abrir a boca e então todos terem certeza que de fato você é!”

domingo, 6 de novembro de 2011

É Tempo De… – Parte IX – The Dark Side Of The Moon (1973)



“Por muito tempo você vive e você voa alto
E sorrisos você dará e lágrimas você chorará
E todo o contato que você ter e tudo que você vê
É toda a sua vida nunca vai ser.”
No exato momento em que o pulsar frenético de um coração ansioso começa a soar alto, eu me ponho a escrever! Escrever não, divagar seria o mais certo, sobre esta maravilhosa obra-prima de todos os tempos. Escrever sobre The Dark Side Of The Moon em toda a sua grandiosidade é algo muito, muito complicado. O álbum é indescritível. Penso que dizer que “The Dark Side of the Moon” é um álbum conceitual de 1973 do Pink Floyd, que fala sobre as pressões da vida, como tempo, dinheiro, guerra, loucura e morte é muito pouco do que ele, de fato, é. Acredito que não existam palavras que possam expressar o que é ouvir Dark Side. Mas eu, envolto em minha humilde tarefa, tentarei. Tentarei descrever aqui um pouco de tudo o que girou (e ainda gira) em torno desse trabalho. Porém, dessa vez será um pouco diferente. Diferente no sentido de que se tem muito a se dizer e não quero deixar o review muito extenso. Então vou dividi-lo em duas partes, tal como o vinil: lado A e lado B (valeu Jr. Pinto pela ideia). No lado A, entrarei numa área mais “poética” e “viajante” da obra-prima, ou seja, numa visão mais Roger Waters. Já no lado B será uma concepção mais David Gilmour, uma parte mais técnica, mas nem tão pouco psicodélica, com sintetizadores, geradores e tudo o mais que foi usado para a concepção do que é considerado “o disco do milênio”! Você vai entender o porque e compreender uma parte da sua vida e do seu lado negro nas próximas linhas...

Lado A – A Viagem Roger Waters

“The Dark Side of the Moon”... O que dizer sobre esta obra de arte? Sobre esta ópera? Se a primeira metade do século 20 teve Charlie Parker e Salvador Dalí, a segunda metade teve Pink Floyd e The Dark Side Of The Moon. Como afirmaram na época de seu lançamento: "Com certeza The Dark Side é uma das principais manifestações artísticas dos últimos 50 anos". E porque isso? Porque vendeu? O que mais? Porque é uma análise do homem contemporâneo tão profunda que ligou-se a todos que a ouviram. Fez a conexão com o homem representado no homem e mulher que a ouviu. Ocorreu com ela uma ligação inconsciente que ultrapassou a ligação "ouço esta música porque me apetece" (nenhuma música que se preze como profunda nos liga a ela por ser "legal" somente. Esse "legal" nela serve à intenções mais obscuras de conexão com a alma individual e com o Eu coletivo, por isso gostamos dela com o mesmo fascínio). Ocorreu um fenômeno, uma transferência de projeção, como se as dúvidas e contemplações do homem como sociedade nesta obra produzisse "quadros" em nossa mente ou então figuras de identificação. Ao descer até o mais profundo escuro do homem coletivo, também desceu às nossas mentes individuais até chegar no inconsciente lado negro de nossas luas. Esta obra foi um sucesso não só pela campanha publicitária, mas pelo simbolismo do homem da época (e até hoje), que não entendia as sociedades em que viviam e de forma quase instintual compravam o álbum vidrados pelo primeiro "quadro" de identificação: a pirâmide da capa com um arco-íris saindo dela, como um tipo de prisma que reflete e redireciona a luz, no caso a luz que sai da compreensão da pirâmide misteriosa de nosso inconsciente enterrado sobre pás e pás de terras do dia-a-dia. Interpreto assim: a luz branca desnutrida que vem da esquerda (o lado representativo do inconsciente) para a pirâmide (o desconhecido ou também o espiritual, o oráculo das respostas) é o pensamento à respeito do inconsciente (as letras da obra) que chega à fonte piramidal, à alma que responde à mente; e o arco-íris que sai da pirâmide rumo à direita (o lado representativo da razão) é a sabedoria, que é colorida de respostas advindas das origens da pirâmide. Como se a luz branca fosse o Pink Floyd que questiona à pirâmide e o arco-íris fôssemos nós que saímos com a sabedoria deles. Discordo do seu criador, Storm Thogerson, que diz que a capa representa um símbolo também de cobiça. Na verdade, acredito que é uma resposta à cobiça.
É interessante e antigo o paralelo entre luas e pirâmides de "The Dark Side of the Moon". Nesta obra parece que a lua é o inconsciente retratado em seu misterioso social coletivo de passos eufóricos e risadas viciadas e a pirâmide é a obra em si que procura um elo salvador doador de respostas pela questão posta. Eu visualizo a lua como as letras e o instrumental como a pirâmide, exceto em "Us And Them", aonde o instrumental soa lunar e em "Eclipse" aonde o vocal soa a pirâmide. Creio que em "Us And Them" há uma divisão no álbum, "Money" o divide em dois, e, na segunda parte, o vocal passa a ser as pirâmides e o instrumental lua. A lua instrumental age sob nosso entender piramidal. Ao inverso do que ocorre antes de Money, aonde as letras têm mais inseguranças e justificativas mundanas. Parece que a primeira parte é o homem concluindo energeticamente e respondendo a si... E a segunda parte é o homem perguntando a Deus que responde através da sabedoria do homem. No final nenhuma resposta agrada à Waters e cia. "And the sun it´s eclipsed by the moon" (E o sol está eclipsado pela lua) termina o álbum como o começa, como um mistério, mas com um grau de etérico anos-luz da dúvida chapada do início. "The Dark Side of the Moon" é uma volta pela dúvida humana, que a conclui no céu, na lua, talvez vendo a lua como o primeiro ser lunático de todos.
"The Dark Side..." é uma busca pelo som... O instrumental e o canto intercalado podem ser medidos como a pulsação cardíaca por aparelhos parecidos que indicam a intensidade de um som por um gráfico numa tela (como aquelas telas de TV de hospital em que se vêem os sinais de vida quando uma pessoa leva um eletrochoque, vemos esse mesmo gráfico nos letreiros do final do documentário sobre "The Dark Side" da série "Great Álbuns”). O instrumental do álbum é passado instintivamente sobre esta base de comparação. As notas agudas dos solos de Gilmour formariam ondas maiores num gráfico, e essas ondas sonoras, se você notar, são formas de triângulos. Triângulos medidos que tentam desenterrar um passado. É o que parece esse instrumental composto tão instintivamente por eles. Será que as antigas pirâmides eram tentativas de representar o som que soa visualmente como triângulos num gráfico? Se descobrissem as notas em acorde que eram as vibrações do universo (como perceberam os hindus), talvez sim. Essa é a razão do Pink Floyd de fazer a analogia com o coração que pulsa no início e fim da obra. Mesmo que inconscientemente, coletivamente eles criaram o som, talvez até geometricamente, como os batimentos do coração e a respiração humana.
Ao se entregar aos seus mais autovalorizados pensamentos interrogatórios no momento da concepção do álbum, Roger Waters criou um instinto artisticamente, ansioso por respostas dentro de si e que o religou com o seu passado. A banda sabia que alguma coisa muito interessante estava sendo criada com The Dark Side. Com os pés no passado a banda olhou para o futuro. Perguntaram como alquimistas e responderam como sacerdotes. De alguma forma, Waters soube que sons evocam pirâmides. Digamos que, de alguma forma, soube que a música é o som da pirâmide. É a pirâmide do ouvido. Talvez seja porque fossem eles GANDARVAS (como afirmou o mestre Srila Prabupada, que era guru de John Lennon e George Harrison e fã do Pink Floyd). Gandarvas são músicos que vieram do mundo de GANDARVALOKA, um mundo mais sutil e sensível. "Aonde está a alma que eu perdi em algum lugar?" Pergunta The Dark Side. À semelhança de um eremita que procura o sentido da vida no alto de uma montanha e volta com ele à nós. Neste álbum, as partes escuras da dúvida humana são acesas com lampiões de luzes da interrogação. Tanta questão jogada ao acaso e The Dark Side é o reflexo de toda a nossa falta de significância. O mundo atual parece que relegou nosso valor de ser à produtos comerciáveis. É preciso ter forte atitude individual para emergir do oceano da mercantilidade de hoje em dia. É preciso assumir riscos com a condição objetiva de não ligar para eles. Quando somos pequenos, projetamos nos pais a imagem de nossa realização, vamos crescendo projetando-a em diversas figuras e em diversos aspectos, mas quando achamos o centro em nós, passamos a ter uma certeza de vida que se esclarece como um aspecto, a segurança. Waters, segundo o que se subentende do que disse, foi criado de um modo que visava a descrença em si como um ser autônomo e independente (como muitos foram criados), e isso, creio eu, fazia com que ele projetasse a figura da significância em sua mãe anormalmente. Especificamente em The Dark Side, ele se liberta da sombra de sua mãe e conclui suas ideias na autonomia do ser. Conclui sua pirâmide como um automestre. Se elevou ao não conseguir mais ninguém para si mesmo, como um auto-suficiente eremita conforme a vida o empurrava para tal alcance. Ele adentrou nos lapsos de ermitão que todo jovem tem ao olhar para o nada. Por isso The Dark Side soa tão sereno e despreocupado e suas questões mais parecem ser respondidas nas próprias perguntas do que parecem clamar por alguma resposta. Parece que as coisas são porque... Por que simplemente são. Em The Dark Side tudo é concluído com a serenidade do mistério, parece uma cooptação à natureza, logo, ao inconsciente. Waters se identificou tanto com a figura do Eremita que aconteceu o que acontece uma figura assim, ele se inflou e, em termos, vegetou. Um pré-Syd Barret em estágio, mas "viajado" no intelecto, tamanha sua perspicaz inteligência racional. É claro ver a relação entre o compositor Roger Waters e o homem Roger Waters que processou seus colegas de banda depois. Ele teorizou seu futuro no desespero. E aposto que hoje ouve sua antiga banda deitado em sua cama viajando mais plenamente com os solos de Gilmour do que com qualquer parte de si ali, quem sabe... Talvez hoje nem Waters nem Gilmour entendam seus papéis cumpridos no Pink Floyd.
Gilmour cantou e tocou a consciência da obra, num contraponto à absorção ao inconsciente que cumpriu Waters. A obra só chegou as nossas mãos graças a esse balanço justo e equilibrado de contrários. Se Waters foi quem socou a mão fundo no lodo lamacento do inconsciente, foi Gilmour quem nos fez entender esse inconsciente cantando e tocando o lodo com sua "sobriedade", seu entendimento. Ele adornou o lodo com flores dedilhadas para que fosse possível ouvir as palavras de Waters sem se sujar de lama "depressiva". Se misturando em um, Waters e Gilmour casaram seus opostos alquimicamente, mostrando a verdade de que "cada elemento encerra seu contrário dentro de si". Gilmour foi o feminino (Yin), Waters o masculino (Yang). Waters e Gilmour fizeram sexo... E nasceu seu filho "The Dark Side of the Moon" (Nick Mason e Richard Wright são seus queridos padrinhos).
No início, The Dark Side abre com maníacas risadas patetas e máquinas que soam como outras risadas, numa mudança somente de timbre. Logo vem o desespero atônito berrando para sair do mecanicismo suicida dessa vida. Esse grito por liberdade, apesar de suicida de insanidade, é o que nos mergulha na obra "anestesicamente". O início soa a uma vista de uma cidade e das coisas que ocorrem nela, mas na câmera lenta da contemplação, após a visualização da sucessão de desesperos que a sociedade contém. Com "Breathe" ouvimos suspiro da respiração pós-morte do acordar da loucura. "Breathe, breathe the air, don´t be afraid to care" (Respire, respire o ar, não tenha medo de se importar). Vá, respire, pois agora já não engolirá mais água se o fizer. É como aquele suspiro que damos depois de sofrer com a falta de ar sob a água, a água dos dias... Soa também às ondas e à visão serenamente sonolenta de alguém que reacorda da anestesia (acorda da Matrix) e bóia no meio do mar olhando para as estrelas. "Breathe" é uma asma calma... Uma ansiedade pedinte: "A ansiedade mais severa está associada a algum distúrbio no funcionamento do coração (...) É igualmente verdade que qualquer obstrução do processo respiratório produzirá ansiedade. Aquele que já observou uma pessoa asmática lutando pra respirar pode avaliar a ansiedade extrema resultante de alguma dificuldade respiratória. Freud também dizia que a respiração pode se associar ao psíquico, mesmo sem ser naturalmente produzida por ele. O coração pulsante, "Breathe" e a afirmação de Waters: The Dark Side Of The Moon era uma expressão de empatia política, filosófica, humanitária que estava louca pra sair". Revelam que esta obra é um anseio que começa pelo fisiológico da ansiedade. The Dark Side anseia por respostas. "Cadê a razão desta vida? Hein?!!?" "And all you touch, and all you see. I t´s all your life will ever be" (e tudo o que você toca, e tudo o que vê. É tudo o que sua vida será)! Nossa reação a isso pode ser subentendida como eu sou pouco como mero indivíduo e isso desanima ou de que esse pouco é amplo e isso anima pelo que não vivi. Esse trecho é uma cooptação sábia da vida, aos dados de sua natureza. É invejável quando uma banda está tão coesa em pensamentos e intenções, né? Como as letras dessa obra mereceram as melodias certas, cada uma delas. Até o Pink Floyd inveja hoje este momento que tiveram, olhando para frente com retinas de saudade. E como se deu o esquema de sons ali, né? Quando acaba "Breathe" morbidamente afirmando "You race towards an early grave" (Você corre em direção à uma tumba prematuramente) vem aquele seqüenciador que pretende simular os movimentos eletrônicos do dia, aquela loucura acelerada do metrô, dos carros e das pessoas, todas, segundo o que parece ser passado, perdidas em um objetivo comum. Ou poderia ser uma espécie de montanha-russa que nos leva pra dentro da profundeza mental, chegando aos cantos que guardam os pensamentos mais insanos (que são as risadas que ecoam como de cavernas longínquas) e sensações mais frenéticas (que é aquela guitarra. Sim! Uau! Aquilo é uma guitarra!) misturadas com a lembrança estressante do dia-a-dia e seus passos e risos tatuados energeticamente. Quando a última risada desta parte ecoa, enfim chegamos ao nosso destino, que são as profundezas da mente sem interferência da superficialidade que esta leu do dia. Talvez a explosão que marca o fim do seqüenciador seja apenas o som do vácuo numa caverna 20 kilômetros mente adentro, aonde nem os morcegos vão. Parece que o que se abre a partir daí é o inconsciente coletivo. Parece que ao fim do seqüenciador de "On The Run", chegamos à camada mais profunda da mente... O instrumental que abre "Time" depois daqueles relógios geniais (que ninguém espera!) (ideia de Alan Parsons, um gênio de produtor) parece ser a contemplação da pirâmide espiritual que permeia a obra sob uma noite de pesadas nuvens negras no deserto. Essa contemplação traz a maturidade das questões, parece que deixamos de ser crianças vagando pelo inconsciente seqüenciado e passamos ao menos a ter as rédeas de nossas especuladas certezas. "Time" é a primeira questão devidamente formulada. Os relógios são uma sacada da vida, perguntam "e a dita cuja?" "O que se fará com o saldo vivo que ainda tem nela?" O que fazer com a vida que passa apenas em tempo? Em tempo que apenas é tempo? Que tem recheio de atividades de passatempo e ganha - "money"? Que favor à reflexão tal crueza deprimente... "Hanging on in quiet desperation is the english way"(se agarrando em calmo desespero é a maneira inglesa). Waters carrega a cruz da Inglaterra inteira! O inconsciente coletivo abarca a todos. A passagem do tempo que agoniza estreitamente e nos coloca "shorter of breath and one day closer to death" (com menos fôlego e um dia mais perto da morte) é algo que ocorre a todos nós e mesmo inconscientemente, a questão do tempo passa por você, não interessando se é uma resposta boa ou não que se dê a ela. Essa questão chama o interesse, porque o ser humano se questiona e por isso avalia a morte de um jeito loucamente mais elaborado que os animais (com a pata das igrejas "cristãs" nisso tudo, que prometem o descanso eterno e nos convocam a chorar o ego depois). Para alguém tão preucupado com o tempo, Waters viveu bem! Essa música é o som do tempo em todos nós, ou melhor, da questão do tempo. "The time is gone, the song is over, thought i´d something more to say" (o tempo se passou, a canção acabou, pensei que tinha algo mais a dizer) Waters foi humilde e viu que suas linhas refletem sem um fim, são o refletir por refletir, como o espelho que não conclui o que reflete, só reflete. Por isso soa à pergunta sem interrogação no final. "Time" é uma certeza ignorante da vida, um alívio de um coração apertado de alguém que parece ter escrito isso numa rede olhando a chuva na varanda, vestida sob traje a rigor de uma das mais belas músicas. Nesta obra toda, o instrumental reflete o que é dito, a guitarra de "Time" tenta ser um consolo, ela puxa para cima e as palavras para baixo. "Time" são as palavras do sequenciador de "On The Run"!
Não se esqueça de que este é um álbum noturno, apague as luzes e verá que por dentro ele é tão negro quanto sua capa. Em "Breahte Reprise" note algo engraçado, parece que há um sexto instrumento junto com o baixo tímido e a bateria leve, além do orgão, voz e guitarra... Algo soa naquele silêncio... Eu percebi que são as trevas, a escuridão em si nos espaços que eles pensaram como "vazios". Waters sempre soube que maiores espaços evocam mais envolvimento com a obra por parte de quem a ouve. Surgem "coisas" nos espaços. Energias de pensamentos sentidos e até vibrações de seres cósmicos/espirituais. Esse "silêncio" pensado por eles é o lado negro da lua e acompanha toda a obra. Como eles perceberam esse lance dos espaços não faço ideia, "Breathe Reprise" é um suspiro! Ai, ai... Você lê aquela letra e visualiza a igrejinha além dos campos que chama à missa com seu sino. Tão simples como um chá. Parece que a lua em seu lado negro guarda os oceanos topográficos. Parece que a reflexão de The Dark Side é o vazio entre os nossos costumes, o vazio entre o pensar no costume e o envolver-se no prazer dele, no prazer de "When i come home, cold and tired, it´s good to warm my bones beside the fire" (quando chego em casa, com frio e cansado, é bom me aquecer ao lado da lareira). E esse vazio que fica na beirada em The Dark Side, como um vazio que a reflexão trouxe de outra dimensão.
E então chegamos ao ponto mais profundo e belo de The Dark Side Of The Moon, "The Great Gig In The Sky". Esta música beira o divino. Parece uma mescla de nuvens e poço. Interessante as figuras que aparecem em nossa mente quando ouvimos músicas assim. "The Great Gig" é o desespero que renasce o novo ser para a segunda parte do álbum. Soa aos desesperos mais solitários de um quarto escuro. Parece que o homem conseguiu ficar só e chorar as conclusões de "Breathe" e "Time", "onde está o porquê do inverno?" pergunta "The Great Gig"... Aqui larga-se a tal sociedade, se fecha no banheiro e a vomita em choros de morte. Waters aqui foi menina... Seu feminino. Veja que interessante, o lado masculino de Waters é tão pungente em suas lógicas sem respostas que quando cede à vida e não questiona mais seu "rio", desabrocha como uma menina... Menina, aliás, chamada Clare Torry. A filha da puta até processou o Pink Floyd para ter seu nome nos créditos de "The Great Gig"! Até que merece, mas só processou pela grana que fluiu do álbum. Pink Floyd e seus processos... "The Great Gig" se tranca no quarto escuro, mas também quer sair dele, creio que queira sair pelas paredes, derrubando e rasgando a carne da sociedade. Richard Wright (convenhamos, que nome próprio para um pianista e escritor, né?) nos mostra aqui que não é preciso solar como um maluco para fazer uma das mais lindas melodias em um piano terrestre. Seu piano traz uma luz clara, consciência à obra. Parece que ele toca numa ampla sala branca e vazia de uma mansão branca na beira de um penhasco que dá para o mar... É tão só... É como se Clare Torry fosse a proprietária desta mansão do penhasco do mar e subisse e descesse suas escadas sempre só e chorando por ser só... Tendo como uma única companhia, o fantasma que senta na sala para tocar piano toda noita à uma e quinze da madrugada. Ela não sabe quem é mais só... Ela ou o mar? Fitando o mar, tristemente só, com seu campari na mão... Um dia ela bebe e se joga do penhasco ou já tenha se jogado... Mas continua vagar pela sua casa... Wright e Torry se casaram ali... De modo divino. Na parte desta música em que entra a bateria e a louca se racha e borra de gritar, eu percebo a pirâmide da obra. Parece que, enfim, os anseios chegaram aos céus como gritos. “Gritar é algo poderoso sobre a personalidade, em termos de catarse. Durante muito tempo foi a técnica da bioenergética. O grito é como uma explosão dentro de uma pessoa, em sua personalidade" - Alexandre Lowen. Bom, um suicida pula do banco se tiver essa faixa com uma corda no pescoço... Um suicida só ouve essa obra até a faixa 4. Quando eu ouço essa música no escuro, parece que a mulher grita no corredor! Dá certo medo... Aquele é o choro de Waters e o sincero lamento choroso que todos damos ao menos uma vez na vida... São as lágrimas da lua. Foi tanta a consciência que eles conseguiram alcançar com este pânico delirante que eles conseguiram chegar à "consciência de sociedade" em "Money", saíram definitivamente das dúvidas que pareciam assombrar mais ao indivíduo que a outros ao seu redor, para dar um salto a um tipo de consciência da razão da qual derivam as sombras pequenas do indivíduo. Chegou-se à politização da dúvida, à uma espécie de consciência socioeconômica das razões que regem nossas distâncias, em breus que viram penumbras à primeira vela a clarear de fato o lado negro: "Money, so they say, it´s the root of all evil today" (Dinheiro, assim eles dizem, é a raíz de todo o mal hoje). The Dark Side foi tão a fundo pelo desespero zumbi de observar a vida cultural que chegou aos valores burgueses-capitalistas que imperam entre nós. "Toda sociedade é reflexo da classe dominante dessa sociedade" - Lênin. Com certeza, a frieza que aparenta a letra de "Money" e "Us and Them", deriva, e muito, de uma história fria de guerras e ditaduras (que até hoje se arrastam em "intervenções militares"e eleições burguesas). Nossa história foi herdada psicologicamente. Até hoje as distâncias são manipuladas pela burguesia (detentores dos meios de produção, como bancos, multinacionais, mídia e seus governos), que se utiliza de sua polícia fascista quando trabalhadores praticam um ato de irmandade de uma greve ou piquete. Siga o outdoor, meu caro! Siga o outdoor! Pois você será mais que eu se tiver aquele carro, aquele celular ou aquele papel higiênico de folha dupla!
Em "Money" se critica, mas nada se conclue. As pessoas continuam estranhas entre si, ainda ninguém revela quem é, se é que sabe! Tudo assombra ainda. "Us And Them" é o nome do assombro. Nunca um pensamento foi cantado assim, parece que sequer saiu do pensamento que a gerou! Não ouvimos "Us And Them", a meditamos... Um nômade chamado Dick Parry a conta com seu sax. Aqui Waters se vestiu de general, e esse general chora ao ver a morte no front. Ele caminha de um lado a outro da sala e adoraria dar os gritos lamentosos de "The Great Gig", mas não pode. É o general, o último que deve perder a cabeça. Ele chora andando e sentando, mas nunca chorando... Nós, os generais de nossas vidas, às vezes fazemos o mesmo... Quando? Só você sabe. Como somos o general e também os soldados rasos de nossas vidas, podemos concluir como generais, mas sempre estando livres para chorar como soldados rasos o que acabou ou sequer deu certo. "Us And Them" lembra uma situação de guerra. Parece a reflexão da primeira carta escrita por um general sobre toda a desgraça que viu. Na carta, ele concluiu que "nós" e "eles" (o inimigo de guerra) são apenas "ordinary men" (homens ordinários). Perceba que os estereótipos do "vazio" são vários, a moça suicida em "The Great Gig", o burguês em "Money", o general em "Uns And them" e o louco em "Brain Damage". Aquela parte "Listen son, said the man with the gun, there´s room for you inside", me lembrou aquela parte do documentário "Farenheit 9/11" aonde 2 oficiais das forças armadas perseguem jovens nas ruas tentando convencê-los a servir no massacre no Iraque. Esses jovens negros e pobres, sustentam seus sonhos de porques de viver, e quando acham que não há razão em suas vidas, parece o homem com a arma dizendo "there´s room for you inside" (há lugar para você aqui dentro), aqui dentro de sua "early grave" (tumba prematura). A letra é ilustrada assim, mas tem haver com todos nós. Não sabemos mais que o "nós", "eles" são um eterno mistério. Mesmo a Ciência é o "nós" e seus objetos de estudo o "eles". As partículas subatômicas não podem ser definidas no tempo-espaço, é dito que elas apenas tem "tendência para existir". O que existe é o nosso mundo particular, com o qual alteramos e distorcemos o mundo "lá fora". Será que já existiu o mundo de verdade? E o "existir", existe? Ou será que só existe o meu? Talvez o "eles" seja um sonho... E o "nós" também... Pensando assim, entramos com dignidade lunar em "Brain Damage". O nômade que passeou pelas ruas, talvez um mendigo, virou o lunático de "Brain Damage". Realmente Waters ficou louco aqui porque teve a audácia de insinuar que tudo que observou até aqui saiu de sua mente somente, sem envovimento de seu coração. Ninguém escreve assim sem coração! Mesmo tendo pensado mais que sentido. Não é que se é lunático ou se tem o cérebro danificado, é que o cérebro fica maluco se quiser dar uma de coração. Waters disse que essa música é sobre a noção de ser diferente e que tem haver com Syd, mas tem é haver com ele próprio, com aspectos do Syd que ele viu em si, como eu disse antes, Syd martelou em seu inconsciente. Waters foi ao seu mais profundo pensamento e lá, numa saleta escura, encontrou Syd que o disse "OI"... "Brain Damage" é uma autoanálise de Waters como ego "quem é esse que ri e fala com os amigos e SE é nas situações do dia? Waters chegou a um nível de autoconsciência aonde seu Eu superior se separa do ego mundano que não se vê contente, mas como um nome que anda e fala e se pergunta "quem sou eu?" Esse lunático que precisa ser mantido no caminho, no pátio, é a consciência superior que passa a se observar. Você já se olhou no espelho e perguntou "quem é você?" Se já, não ache que é a adolescência ou seus resquícios, é que você já alcançou a separação dentro de ti, entre esse teu eu de teu nome e esse de sua alma. Essa separação clama até arrombar a porta do seu inconsciente para sair de dentro de você, como uma flor e uma borboleta precisam crescer... "You lock the door and throw away the key, there´s someone in my head and is not me” (você tranca a porta e joga a chave fora, há alguém em minha cabeça e não sou eu). Esse alguém arromba seus abismos mentais e se parece com alguém que não é você, se antes você jogou a chave de sua personalidade real fora. Então seja gay, lésbica ou os dois! Seja o profissional que sempre quis ser! Brinque, se divirta, curta a vida! Mande para longe aquela pessoa ou situação que é um saco! Cumpra aquela promessa! Declare aquele amor de joelhos! Tire a roupa! Faça aquela viagem, mesmo que só! Assuma você! Aquele que te pede "ME SEJA" dentro de ti! Ou então encare o lado escuro da sua lua.
Esse lunático de Waters é também o de todos nós, que se exibe deitando nu na frente da casa de nossa consciência, quando ignorado como uma parte de nós que não existe. "Se o homem persistisse em sua loucura, tornar-se-ia sábio!" - Willian Blake. E o fim chega com essa certeza! O fim explode como um novo início! Parece que enfim chegamos ao nosso destino, viajando pelo inconsciente: "Tudo o que conheço, mas não penso num dado momento, tudo aquilo de que já tive consciência mas esqueci, tudo o que foi percebido pelos meus sentidos e meu espírito consciente não registrou, tudo o que involuntariamente e sem prestar atenção (isto é, inconscientemente) sinto, penso, relembro, desejo e faço, todo o futuro que se prepara em mim e que só mais tarde se tornará consciente, tudo isso é conteúdo do inconsciente!" Compare estas palavras de Jung com a letra de "Eclipse":

Tudo o que você toca
Tudo o que você vê
Tudo o que você prova
Tudo o que você sente
Tudo o que você ama
Tudo o que você odeia
Tudo o que você desacredita
Tudo o que você salva
Tudo o que você dá
Tudo o que você negocia
Tudo o que você compra
Pede, pega emprestado ou rouba
Tudo o que você cria
Tudo o que você destrói
Tudo o que você faz
Tudo o que você diz
Tudo o que você come
Todos os que encontra
Tudo o que suaviza
Todos com quem luta
Tudo o que é agora
Tudo o que passou
Tudo o que está por vir
E tudo que está sob o sol está em sintonia
Mas o Sol está eclipsado pela Lua
Se tudo sobre o sol está em sintonia, se somos assim por vontade divina, se o rio corre como nós caminhamos, se devemos ser felizes por exercermos comunhão natural, nossa comunhão continua obscurecida pelo inconsciente, ditando nosso dia-a-dia militar por busca de significância. Por mais que Waters conclua isso no final como a questão da sociedade, ele conclui. A obra assim, SE concluem assim, e se joga numa dúvida cíclica, redondamente eclipsada, que nos faz ouvir tudo de novo num misto de prazer e procura. Mas a sombra da dúvida me examina mais a mim do que eu a ela e me passa uma rasteira quando eu pensava que tinha ela nas mãos. Digo isso porque a resposta desta obra é hermética e conclui afirmando tão sutilmente que tudo aprece ficar suspenso no ar! "Me desvende ou te como dúvida!" “Como dúvida” diz a Esfinge. Não há coisa mais sozinha que "Eclipse". É uma afirmação eremítica de alguém que só parece ter aberto a boca uma vez na vida para falar isso. O que a voz afirma se conclui pelas estrelas no negro-instrumental, ouça bem. O que há dentro do que há. Sabedoria de Ermitão que nem Waters compreendeu e continuou perguntando nos álbuns seguintes, navegando atrás da busca de sentido até bater a cara numa parede e levantar a eremítica questão:

"Há alguém aí?"
Walter de la Mare - "Os Ouvintes"

Há alguém aí? Perguntou o viajante
Batendo à porta banhada de luar
E seu cavalo no silêncio emoeu as ervas
Do chão de samambaias da floresta
E um pássaro ergueu-se, voando da torre
Acima da cabeça do viajante
E ele bateu à porta pela segunda vez
'Há alguém aí?' Perguntou
Essa é a poesia mais Pink Floyd que conheço…
Como um alquimista do século XV, Waters tenta desvendar a lua pelo intelecto, mas ela sempre se esconderá de sua razão. Os segredos da natureza, diz-nos ela (a lua), só se revelarão através do contato íntimo de mãos delicadas e um coração compreensivo! Por isso talvez que eu perceba que a guitarra e a voz de Gilmour parecem reinterpretar a mensagem escrita. Waters pergunta “quem sou eu?” à Lua e esta responde pela guitarra e órgão hermeticamente: "Você é tudo o que sempre foi e sempre será"... Parece que as questões da Terra se respondem acima dela. Hoje, o homem moderno lançou, através das nuvens, em seu espaço, navios destinados a pousar, imprudentes, no lado escuro da lua. Mas sem nenhum proveito. O segredo de seu brilho interior ainda permanece oculto. Os homens do espaço não trouxeram de volta nenhum raio mágico de lua para iluminar nossos sonhos e também nos espantar. Partiram carregando consigo um saco cheio de rochas monótonas e deixando para trás, na superfície lunar, a marca registrada do homem moderno: uma área de estacionamento!
Se o "sol está eclipsado pela lua", eu contraponho a afirmação por "nós somos do Sol"!
Afinal a visão da lua é a Terra...
E a lua é linda...
E então.. E então…  Você descobre o que sempre soube… Que não existe um lado escuro da lua… Na verdade, ela é toda escura!

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Cai o Pano

3º Ato
A minha tristeza já não existe... Ontem morreu alguém que me foi especial durante um tempo... Tempo até demais... Alguém que nunca existiu, a não ser na minha imaginação e que amei com todas as minhas forças... Amei uma mentira... Pérfida e sem escrúpulos. Fui nada mais do que um brinquedo camuflado no meio de palavras de amor fingido e momentos ensaiados num teatro com vários protagonistas... Fui só mais um... Afinal um sonho nada mais é do que isso mesmo, UM SONHO, irreal e bom até o inevitável momento em que acordamos e sentimos o frio da realidade... Infelizmente morreu também uma parte de mim, perdida numa teia de jogos e intrigas por demais irrisória para que sequer possa ser chorada ou lamentada... Fui o maior de todos os cegos por nunca querer ver o que sempre soube ser a verdade, porque a verdade era incompatível com o meu sentimento e o meu amor era maior que qualquer verdade... E sim, às vezes ainda me engano com brilhantes! Estas são as últimas palavras que te dedico de tantas e tantas que nunca mereceste por um instante sequer...
Cai o pano.

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Para alguém…

Por esses tempos está chegando uma data importante na vida de alguém! E como não posso mais oferecer as minhas mais sinceras e verdadeiras congratulações por tão importante evento, então deixo aqui registrado somente um breve comentário. Talvez você leia, talvez não… Talvez isso aqui se perca nos confins deste enorme mundo digital! Porém, para mim é se como cada palavra que daqui saiu atingiu seu objetivo! E talvez eu fique feliz com isso, imaginando… Apenas imaginando!!!
Ps.: Será que você seria capaz de se esquecer de mim, e, assim mesmo, depois e depois, sem saber, sem querer, continuar gostando?

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

É Tempo De… – Parte VIII – Obscured By Clouds (1972)



“As recordações de um homem em sua velhice
São as ações de um homem na sua juventude
Você se arrasta na escuridão da enfermaria
E fala com você mesmo enquanto morre”

Apenas mencionar o nome Pink Floyd evoca uma paisagem inteira musical de sintetizadores, rock psicodélico, experimentações e letras filosóficas. Até hoje, 44 anos após a banda ter sido formada, a música favorita de muitas pessoas é simplesmente definida como "Pink Floyd"! Várias outras bandas tiveram sua inspiração no Pink Floyd, e pelo menos uma até tomou o nome de um álbum, obscurecida por nuvens musicais. Usando o termo “psicoclética” (junção de "psicodélica" e "eclética") pode-se muito bem descrever o disco Obscured by Clouds. Como a velha fábula dos homens cegos descrevendo um elefante, tocando apenas o seu tronco, suas pernas ou sua cauda, tomadas em pontos diferentes! O álbum possui momentos bem diferentes nas diferentes canções e pode ser descrito como de tudo, desde o rock clássico à experimentação, o retorno ao folk para, talvez, o cético em suas descrições da paisagems épicas.
Obscured by Clouds é um dos mais obscuros e substimados álbuns do Pink Floyd e foi produzido para ser a trilha sonora do filme de Barbet Schroeder, "La Vallee," sobre um grupo de hippies em busca da iluminação em um vale perdido na Nova Guiné. Foi gravado no estúdio francês Chateau D'herouville no final de fevereiro de 1972 em apenas uma semana e mixado no mês de março do mesmo ano. O disco foi lançado no Reino Unido em 3 de junho de 1972 e nos Estados Unidos em 15 de Junho. Atingiu a 5º posição em vendas no Reino Unido e a 46º nos Estados Unidos, onde foi galardoado com disco de ouro pela RIAA em Março de 1994.
Como de costume, a capa do disco foi realizada por Storm Thorgerson, amigo de longa data dos membros do grupo inglês. A arte consiste em uma imagem desfocada de um homem tentando alcançar algo em um ambiente bastante bucólico.
Curiosamente, pode-se dizer que o disco é bastante coeso, apesar do curto tempo de gravação e a produção "seca" (especialmente a bateria de Nick Mason) empresta ao álbum uma sensação de “muito apertado”. Na época foi escrito que Obscured by Clouds foi o último esforço “em grupo” da banda. Concordo plenamente com isso, visto que os próximos trabalhos foram bem individuais, geralmente trabalhos completos de Roger Waters ou David Gilmour. O álbum também mostra a banda pronta/madura e à beira do estrelato maciço e global, que se tornaria plenamente realizado com o avassalador e mais vendido (Money!!!) disco The Dark Side of the Moon (1973).
Liricamente, Roger Waters começa a refletir sobre questões que ele desenvolveria mais tarde, incluindo seu pai,  morto em combate na 2 ª Guerra Mundial (Free Four) e Dave Gilmour refere-se a ficção científica em “Childhood's End” , que é o título de um conto do clássico escritor de ficção Arthur C. Clark. Nota-se perfeitamente que Childhood's End foi gravado sem um verso final e que Roger Waters iria escrever todas as letras para o grupo seguir com o trabalho, assim, "aliviando" Gilmour desta responsabilidade. Os vocais de Gilmour, aliás, também são excelentes e ele realmente veio se transformou em um cantor muito mais confiante. Seu modo de tocar guitarra foi também bastante explorado.
Obscured by Clouds é o álbum mais injustamente ignorado na discografia do Pink Floyd. Seus instrumentais, a faixa título,  "When You're In", "Absolutely Curtains" e especialmente "Mudmen", são algumas das melhores músicas do disco e da banda, com toda a loucura do psicodelismo elevada a novos patamares. "Childhood's End", "Free Four" (a primeira canção em que Roger Waters lida com a morte de seu pai na 2ª Guerra Mundial) e "Stay" (cantada perfeitamente por Richard Wright) são canções que trazem novas abordagens paras as composições do grupo. O som, em claros transes de altos e baixos, são precursores bem ao estilo usados em obras lendárias do Floyd, como Dark Side of the Moon e Wish You Were Here. Se você gosta desses álbuns, então você deverá considerar Obscured by Clouds.
As músicas do álbum são:
Lado A
"Obscured by Clouds" (David Gilmour, Roger Waters) – 3:03
Instrumental
"When You're In" (Gilmour, Mason, Waters, Wright) – 2:30
Instrumental
"Burning Bridges" (Wright, Waters) – 3:29
Vocais: Gilmour, Wright
"The Gold It's in the..." (Gilmour, Waters) – 3:07
Vocais: Gilmour
"Wot's... Uh The Deal" (Gilmour, Waters) – 5:08
Vocais: Gilmour
"Mudmen" (Gilmour, Wright) – 4:20
Instrumental

Lado B
"Childhood's End" (Gilmour) – 4:31
Vocais: Gilmour
"Free Four" (Waters) – 4:15
Vocais: Waters
"Stay" (Wright, Waters) – 4:05
Vocais: Wright
"Absolutely Curtains" (Gilmour, Mason, Waters, Wright) – 5:52
Instrumental
Comentado e “compilando” um pouco sobre as músicas, o álbum abre com a canção homônima Obscured By Clouds. Uma faixa instrumental executada por Roger Waters e Rick Wright com os sintetizadores VCS3, com batidas repetitivas e hipnotizantes de Nick Mason e solos de guitarra estridentes de David Gilmour. Uma faixa envolta no delicioso clima que permeia todo o disco. Em seguida, outra música instrumental: When You’re In. Sintetizadores, bateria e guitarra formam um instrumental mais agitado do que o primeiro. Ótima atuação do Nick Mason com suas batidas simples, porém eficientes. A bela e melancólica Burning Bridges, primeira faixa cantada do álbum, é um dos destaques. Ótima atuação vocal de David Gilmour e Rick Wright que às vezes se revezam ou cantam em dueto, além da bonita letra composta por Roger Waters. Os tristes solos de guitarra parecem transportar o ouvinte para um local tranqüilo, isolado de tudo e de todos. The Gold It’s In The... é a composição mais agitada. Sua letra é um resumo do filme para o qual foi composta, fala da aventura em uma terra desconhecida e paradisíaca. Excelentes solos de guitarra de David Gilmour que fazem qualquer um entrar no clima de aventura expresso na música. Ótima atuação, também, de Waters no baixo elétrico. A pastoral Wot’s...Uh The Deal é extremamente agradável. Ótimo trabalho de Rick Wright nos teclados, admiráveis vocais e guitarra de Gilmour e, como já era de se esperar, maravilhosa letra de Roger Waters: “alguém mandou a terra prometida, bem eu a agarrei com ambas as mãos, agora sou o homem que está lá dentro e olhando tudo lá fora”. Mudmen é uma música instrumental com a melodia muito semelhante a da já mencionada Burning Bridges. Solos angustiados de guitarra envoltos pelos sons de sintetizadores, teclados e baixo e a bateria compassada formam a bela canção.
Childhood’s End, uma composição de David Gilmour, inicia-se com o som de sintetizador surgindo aos poucos (fade in) para, logo em seguida, dar lugar a um ótimo riff de guitarra acompanhado por teclados. Um ótimo solo “Gilmouriano” é executado na metade da música. Free Four possui um ritmo e melodia que flerta com o Country. Letra ácida de Waters que faz lembrar bastante Corporal Clegg do álbum A Saucerful Of Secrets. Foi certamente a faixa do álbum que teve mais destaque nos EUA. Ótima instrumentação. Stay é uma balada belíssima, a mais cativante faixa de Obscured By Clouds. Ótimos vocais de Wright e maravilhoso solo de guitarra com o efeito Wah-Wah de David Gilmour. Absolutely Curtains é a última música do disco, composta por sintetizadores VCS3 e percussão que cria um ambiente místico. Uma canção hipnotizadora que se encerra com cânticos da tribo Mapuga de Papua Nova Guiné.
Obscured by Clouds é um ótimo disco, um dos mais coesos da discografia Floydiana, último da fase de transição da era Barrett para a era Waters; porém esquecido até por alguns fãs da banda. O disco mostra muito do que foi o rock clássico, principalmente graças a Dave Gilmour. Sua assinatura de guitarra é deveras importante em todo o álbum, mas não ao ponto onde começa-se a perguntar se isso é mesmo Pink Floyd ou um daqueles grupos barulhentos de rock que sua mãe desaprova. Com este trabalho o Pink Floyd alcançou o ponto alto de sua maturidade musical que culminaria com os próximos discos. É um disco que a vale a pena (e muito) ser ouvido em toda a sua plenitude.

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

É Tempo De… – Parte VII – Relics (1971)




“Lembre-se de um dia anterior ao de hoje
Um dia quando você era jovem
Livre para brincar sozinho com o tempo
A noite nunca vinha”

Após o sucesso de Meddle, o Pink Floyd lança Relics, uma compilação de músicas dos últimos trabalhos do grupo até aquele momento. O disco foi editado em maio de 1971 na Inglaterra e em julho do mesmo ano nos Estados Unidos. Esta “coleção bizarra e curiosa”, como foi chamada naqueles dias conturbados dos anos 70, foi produzida como um “tapa-buraco” entre Atom Heart Mother e o ainda a ser produzido Meddle. O lançamento foi desencadeado pelo sucesso do Atom Heart Mother, que alcançou a primeira posição nas paradas britânicas. O disco foi lançado em diversos países e, às vezes, sem a devida autorização do grupo (chama o jurídico!) e teve também inúmeros incidentes ocorridos aos lançamentos. Um desses incidentes envolvia a EMI Australiana, que lançou o álbum sem o devido consentimento da banda. Isso gerou processos e levou o disco a ser retirado das lojas e, como resultado, tornou-se uma raridade para a época.
O álbum atuou como uma introdução perfeita para o grupo, especialmente quando, alguns anos mais tarde, o sucesso de Dark Side Of The Moon fez com que vários fãs voltassem para ouvir e viajar nas obras anteriores. Relics coloca os ouvintes em um devaneio de estranheza. Era difícil imaginar que este era o mesmo grupo. E, claro, em muitos aspectos, não era, pois, em seis das onze músicas do álbum o ex-líder Syd Barrett estava presente. O álbum demonstra claramente como o Pink Floyd evoluiu. Segundo Richard Wright, “esse é o som das fronteiras musicais, como relíquias raras, serpenteando através dos lados b dos compactos”.
As músicas do disco são:
1 "Arnold Layne" 2:56 Compacto (1967)
2 "Interstellar Overdrive" 9:43 The Piper at the Gates of Dawn
3 "See Emily Play" 2:53 Compacto (1967)
4 "Remember a Day" 4:29 A Saucerful of Secrets
5 "Paintbox" 3:33 Lado B do compacto "Apples and Oranges" (1967)
6 "Julia Dream" 2:37 Lado Bdo compacto "It Would Be So Nice" (1968)
7 "Careful with That Axe, Eugene" 5:45 Lado B do compacto "Point Me at the Sky" (1968)
8 "Cirrus Minor" 5:18 Música do filme More
9 "The Nile Song" 3:25 Música do filme More
10 "Biding My Time" 5:18 Música não lançada anteriormente
11 "Bike" 3:21 The Piper at the Gates of Dawn
Até o lançamento mais definitivo, Relics era mais conhecido pela  inclusão de Syd Barrett nas músicas, "Arnold Layne" e "See Emily Play", bem como a três outras músicas “lado b”. As versões de "Paintbox", "Julia Dream" e "Careful with That Axe, Eugene" foram meio que remixadas em estéreo. O álbum também incluía uma música inédita de composição de Roger Waters, "Biding my time", que foi ouvida pelo público ao vivo somente como parte da seqüência do concerto "The Man and the Journey". As outras músicas lançadas anteriormente em outros álbuns são idênticas às suas versões originais.
Relics é sólido o suficiente para ser um álbum do Pink Floyd. Mas a óbvia ausência de Syd Barrett em algumas faixas acaba com essa ilusão. A variedade da música, contudo, não seria realmente importante, pois o grupo era conhecido por fazer álbuns musicalmente desarticulados na época. Três das canções são de Barrett, duas das quais são individuais: “Arnold Layne” e “See Emily Play”. Ambas são canções psicodélicas, relativamente coerentes em relação ao material Barrett posterior. A outra é o resultado de muito ácido e uma imaginação criativa infantilmente. “Bike” é uma canção incrivelmente engraçada com efeitos de som estranhos e até mesmo letras estranhas.
A capa do álbum foi desenhada pelo baterista Nick Mason, e segundo ele é o único produto concreto de seus anos na escola de arquitetura na Regent Street Polytechnic.
Além das variações sobre o projeto original, o álbum foi lançado em vários países com diferentes capas. O rosto de quatro olhos sobre a capa original do álbum dos EUA foi um abridor de garrafas antigas. Quando o álbum foi lançado em CD, o ex-parceiro Hipgnosis Storm Thorgerson tinha uma versão real da engenhoca na capa que fez e que apresentou a Mason. Ela ainda existe e está no escritório de Mason. Ambos Thorgerson e seu assistente, Peter Curzon, surgiram com a ideia depois de ver a escultura da cabeça que tinha sido construído por John Robertson, que apareceu no álbum The Division Bell.
Portanto meus amigos, se vocês querem ouvir músicas mais antigas ou amostras reais do som do Pink Floyd ou mesmo obter um punhado de lados b e raridades, como “Paintbox” ou “Julia Dream”, vocês vão encontrar em Relics. O longa, “Overdrive” e a pista psicodélica “Interstellar” provavelmente não será muito atraente para todos. Eu sou fã e é decepcionante saber que existiam excelente músicas lado b que deveriam ter sido incluídas, mas novamente você tem que lembrar que a gravadora basicamente apanhou um punhado de canções em ordem cronológica variada e lançou o disco. Mesmo com todo esse pesar, é um disco recomendado para se conhecer o Pink Floyd na sua era “clássica”. As músicas no disco pronunciavam a que caminho a banda iria seguir. Relics não é uma compilação comum, é realmente agradável e com um som original. Vale a pena ouvir novamente!

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

É Tempo De.. – Parte VI – Meddle (1971)


“Caminhe, caminhe
Com esperança no seu coração
E você nunca andará sozinho
Você nunca andará sozinho”

Entre as incertezas e a busca por uma nova identidade, o Pink Floyd lança o sexto álbum de sua discografia, “Meddle”, um trabalho transitório que levaria a banda a um caminho mais sólido e coeso, rumo ao estrondoso sucesso que estaria por vir. Gravado entre os meses de junho e agosto de 1971 no famoso estúdio Abbey Road, é um disco totalmente experimental, marcando o evolucionismo do progressivo a um patamar nunca antes visto ou melhor, ouvido. O disco sempre foi muito bem cotado entre os fãs da banda, principalmente pela experimental e bem posicionada “Echoes”, uma obra-prima do rock progressivo, que em seus 23:27 mostra o entrosamento da banda em sua melhor fase, mas que acabou deixando as outras ótimas faixas do disco em sua sombra, de maneira que para muitos, “Meddle” é sinônimo de “Echoes”, o que não é verdade. Segundo David Gilmour, Meddle está entre os seus favoritos e marca também o princípio da caminhada do verdadeiro Pink Floyd. Embora existam no álbum variadas melodias, “Meddle” é considerado um álbum mais coeso do que o seu antecessor Atom Heart Mother. A capa, pra variar um pouco, trazia uma foto diferente e bem psicodélica, pois poucos conseguem visualizar o que de fato significa. É simplesmente "um ouvido embaixo d'água", que foi usado como base para o desenho final, feito por Storm Thorgerson. Só a título de curiosidade e de registro, a palavra “Meddle” significa intrometer-se ou intervir.
As duas primeiras músicas seguem uma à outra através de um efeito sonoro de vento, um estilo que voltaria em álbuns posteriores Dark Side of the Moon, de 1973, e Wish You Were Here, de 1975. A abertura do álbum se dá com “One Of These Days”, calcada na psicodelia e experimentalismo que foram a marca registrada do Pink Floyd na era Barrett. A faixa foi construída em cima da psicodélica linha de baixo criada por Roger Waters, contendo muitas experimentações sonoras à lá “prog” anos 60/70. A música ainda faz alusões à violência em sua letra composta por apenas uma frase: “One of these days, I'm going to cut you into little pieces” (um destes dias eu te corto em pedacinhos). Era a estréia de Nick Mason como "vocalista". Ela foi o único single do disco. Na edição americana o lado B continha "Fearless" e nas edições japonesas e italianas, "Seamus". A música foi resgatada pela banda na turnê do último álbum de estúdio “The Division Bell”, e pode ser conferida uma excelente versão, mesmo sem Waters, no disco P•U•L•S•E. Em seguida, David Gilmour mostra que conquistou seu espaço na banda e assume os vocais na típica floydiana “A Pillow Of Winds”, música lenta que é levada pelo violão, guitarra e a voz suave de Gilmour. Segundo o baterista Nick Mason, traz uma referência ao jogo Mahjong, que tinham se apaixonado durante a excursão promocional de Atom Heart Mother O disco segue com “Fearless”, uma das mais emocionantes faixas do disco, com belo trabalho de Gilmour e emocionante fundo vocal da torcida do Liverpool, entoando o clássico "You'll Never Walk Alone", composta por Rodgers & Hammerstein II. A canção é uma espécie de símbolo da torcida do time inglês e cantada até hoje quando jogam no estádio Anfield. Uma das faixas mais injustiçadas do Pink Floyd vem em seguida: “San Tropez” é diferente de tudo que a banda já gravou. Composta por Waters, aqui ele canta diferente do seu famoso timbre sofrido e sombrio, dando lugar a um tom mais alegre e sereno. A música possui um ritmo dançante, levado pelo violão de Gilmour e por Wright, que mostra que sua praia é mesmo o jazz num inspiradíssimo solo de piano no final. Tudo isso junto a uma levada de bateria bem simples e seca tem como resultado uma música agradável e de fácil digestão. “Seamus” é considerada por muitos a “ovelha negra” do disco. Trata-se de um blues bem simples criado em cima de latidos de um cachorro. O resultado é bem interessante mostrando mais uma das loucuras que a banda fazia e criava em estúdio. O DVD “Live At Pompeii” mostra a banda tocando e o cachorro latindo num microfone ao lado sendo segurado por Wright. Curioso, no mínimo.
O lado B do disco é inteiro ocupado pela supracitada e maravilhosa “Echoes”, a música que toda banda de rock progressivo gostaria de ter composto. Como li certa vez, “Echoes” é uma delícia de sonoridade e magicamente gostosa de se ouvir. Ela tem uma graça majestosa, enchendo cada um dos seus 23 minutos e 27 segundos com um mistério sofisticado que veio para definir tudo sobre o Pink Floyd: ligeiramente obscuro e extremamente espacial. É sem dúvidas a melhor faixa do disco e uma das melhores músicas da banda, que apesar de ser muito longa, podia ser facilmente executada ao vivo (podia e pode – esses tempos atrás assistir a um show de uma banda cover do Floyd de nome Echoes e eles tocaram Echoes, completinha). Uma de suas melhores versões pode e DEVE ser conferida, também, no DVD “Live At Pompeii”, pois retrata toda energia e entrosamento de um time muito bem treinado, com muita qualidade e vontade de jogar. A música foi criada a partir de diferentes sons elaborados por cada integrante da banda, que juntos e encaixados com a belíssima linha melódica criada por Gilmour e Wright a tornam memorável. Ela se inicia com o famoso som criado por Wright no piano, interpretado por uns como sendo um sonar, e por outros, um pingo no oceano. A partir daí a música vai crescendo aos poucos: entra a guitarra com um solo delicado, o baixo, a bateria, os vocais harmonizados pelo guitarrista e pelo tecladista, até que tudo culmina no famoso trecho que remete à trilha sonora do “Fantasma Da Ópera”. Uma mudança de andamento ocorre dando espaço a uma “jam” com influências de “reggae” e “blues” em que o órgão e a guitarra marcam presença. Tudo vai desaparecendo aos poucos e a música adquire uma atmosfera soturna e sombria, que poderia fazer parte da trilha sonora de um filme de terror. Gilmour faz a guitarra falar e gritar, criando uma sonoridade excepcional. Tudo volta quando a banda entra em cena aos poucos novamente até o retorno dos vocais. A música acaba lentamente dando a sensação de perfeição e coesão sonora. Perfeita, em todos os sentidos. Como já foi dito e não custa nada repetir: “Echoes é a música que toda banda de rock progressivo gostaria de ter composto.
Muito mais bem organizado e maduro que seu antecessor, Meddle foi o primeiro passo rumo à sonoridade ímpar que o Pink Floyd criou nos seus grandes álbuns na década de 70.

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

É Tempo De… – Parte V - Atom Heart Mother (1970)



“Nós dissemos adeus antes de dizermos olá
Dificilmente eu gostaria de você
Eu não me preocuparia afinal”

Naqueles dias iniciais dos anos 70, o mundo ainda vivia o efeito devastador da transformação social ocorrida no final da década passada. Pairava a expectativa de sobre como tudo reagiria dali por diante após tão radicais mudanças. Isso também estava ocorrendo no cenário musical. O fim da era Beatles (antes que algum fã me dê um tiro - pelo menos da banda em si) fazia com que a atenção não só do público, como da crítica e, sobretudo, das gravadoras, se dispersasse em direção a outros artistas que apareciam com destaque no fim da década passada. Dentre as novidades, uma delas se destacava como a viga mestra de um movimento que ganhava corpo a cada dia, o psicodelismo. Seu nome? Pink Floyd.
Os dias atravessados por Roger Waters, David Gilmour, Nick Mason e Richard Wright, porém, não eram nada comparados aos passados acerca de três anos antes. Originária de um sucesso de público e crítica devido ao conceito criado sobretudo por Syd Barrett, era visível a crise de criatividade e o abalo emocional vividos após a saída de seu mentor original. Após a estréia marcante com o aclamado “The Piper at the Gates of Dawn”, e o conseqüente estrelato, veio o contestado “A Saucerful of Secrets”, última obra de Barrett com o grupo. Sucederam, já com Gilmour nas guitarras, várias participações em trilhas sonoras em filmes, com destaque para “More” e “Zabriskie Point” e o conceitual “Ummagumma”, o álbum duplo que reunia, em um disco, quatro faixas ao vivo e, no outro, faixas solo de cada um dos integrantes. Quando os anos 70 chegaram, contudo, um novo álbum precisava ser lançado.
Então, trancafiados nos estúdios da EMI, em Abbey Road, o Pink Floyd deu início às gravações daquele que seria um dos discos mais importantes da história do rock mundial. “Atom Heart Mother”, a música, se apresentou como uma grande peça teatral, subdividida em seis atos. O resultado foi grandioso. A gravação contou com estrutura digna de uma orquestra sinfônica, estando presentes um cello solo, uma dezena de instrumentos de sopro – com destaque para o solo de trompas francesas – e um coral de 20 pessoas, sob a regência do maestro John Alldis. Foi um foco de luz à frente do Pink Floyd, mostrando as extensões e os caminhos que a banda iria desenvolver e trilhar nos próximos trabalhos. O álbum trazia as seguintes faixas:
Lado 1
1. "Atom Heart Mother" (Mason, Gilmour, Waters, Wright, Geeser) 23:44
a. "Father's Shout"
b. "Breast Milky"
c. "Mother Fore"
d. "Funky Dung"
e. "Mind Your Throats, Please"
f. "Remergence"
Lado 2
1. "If" (Waters) 4:31
2. "Summer '68" (Wright) 5:29
3. "Fat Old Sun" (Gilmour) 5:24
4. "Alan's Psychedelic Breakfast" (Waters, Mason, Gilmour, Wright)
a. "Rise and Shine"
b. "Sunny Side Up"
c. "Morning Glory"
Atom Heart Mother é um disco que dividi os fãs da banda entre os que o amam e os que o odeiam. Foi um trabalho que insistiu na ideia de que todos compusessem as faixas, embora agora não tocassem sozinhos, como em Ummagumma, mas em conjunto. O disco trazia junto várias peculiaridades: primeiro o título, tirado de última hora de uma notícia sobre uma mulher com um marca-passo no coração que dera luz. Além da música, o disco também tem uma das capas mais enigmáticas da história da música. O bovino mais famoso do rock mundial aparece tanto no vinil, quanto no CD. A rês Lullubelle III, uma cruza das raças holandesa e normanda (ao contrário de suas colegas da contracapa, puramente holandesas), foi fotografada em uma propriedade rural do interior da Inglaterra. A gravadora pagou ao dono da propriedade cerca de mil libras pelos “direitos de imagem” do animal. A propriedade virou ponto turístico, e Lullubelle, uma celebridade.
A primeira (e única) música do Lado A tem uma duração aproximada de 24 minutos. O início é impactante com “Father’s Shout”, onde é dada uma pequena demonstração do virtuosismo do grupo, tendo ao fundo a desafinação dos instrumentos de sopro simulando vozes humanas. Após, vem “Breast Milky”, marcada pela impecável interpretação do coral, sustentada pela melodia marcante dos teclados de Wright. “Mother Fore” retoma a instrumentalidade da faixa, com uma estrutura bluesística, alternada com vocais furiosos. “Funky Dung” apresenta a experimentação das faixas em estúdio de “Ummagumma”, onde uma mescla de ruídio estereofônicos criam um cenário de suspense, originando uma estrutura que viria a ser retomada em “Echoes” (do álbum Meddle) e “On The Run” (de Dark Side of The Moon). “Mind Your Throat Please” retoma a musicalidade da canção. O grand finale vem com “Remergence”, que repete as estruturas da primeira parte, em um final apoteótico. A faixa era uma experiência auditiva fantástica, visto que o álbum foi um dos primeiro a ser gravados no sistema quadrofônico estéreo, que subdividia o som de cada instrumento em um canal diferente para o ouvinte. Algo complexamente trabalhado que tomou o lado A inteiro do álbum, numa experiência inédita no Rock mundial. Quando Roger Waters ouviu David Gilmour tocando as partes de guitarra para essa música, ele disse que soava parecido com a música tema para o filme Sete Homens e um Destino. Uma curiosidade interessante foi que o cineasta Stanley Kubrick quis usar essa faixa no filme Laranja Mecânica, mas a banda recusou permissão.
O lado B do álbum começa com a cativante “If”, de autoria de Waters. À primeira vista parece uma cantiga de ninar, porém, quando examinada a letra se vê uma forte ode à insanidade humana. A temática seria a marca registrada de Waters para o resto da carreira. O violão dedilhado cortado pela guitarra de Gilmour é um clássico. A letra, marcada por suposições, (vide os versos “If i were a swan, I’d be gone / If I were a train, I’d be late / If I go insane / Please don’t put yoru wires in my brain”) foi feita, sem dúvida, em homenagem a Syd Barrett e seu momento difícil. Segue-se a esta “Summer 68”, uma das melhores músicas do grupo. De autoria de Wright, trata-se de uma canção singela sobre um relacionamento efêmero seu com uma groupie no verão de 1968. A música segue o seu curso normal até que, de repente, é cortada pela clássica intervenção de Gilmour gritando “How do you feel?”, como se questionando o ouvinte do que sente no momento. Então se percebe presença de metais em estilo barroco, ilustrando o clima da música. Após a retomada da normalidade, a segunda intervenção é feita por toda a orquestra presente na gravação de “Atom Heart Mother”, numa mistura única de sons vista na história da música contemporânea.
A faixa de Gilmour, “Fat Old Sun”, traz a mesma estrutura melodiosa anteriormente apresentada pelo grupo na faixa “Green Is The Colour”, da trilha do filme “More”. Trata-se de uma balada, onde a melhor parte, sem dúvida, é o solo de guitarras no fim da faixa. “Fat Old Sun” ficou famosa por ser a música de trabalho do álbum e pela interpretação forte do grupo em seus shows ao vivo, em quase nada lembrando a versão calma gravada em estúdio. O disco acaba com “Alan Psichedelic Breakfast”, outra faixa conceitual. Com duração de cerca de 13 minutos e subdividida em três atos (“Rise and Shine”, “Sunny Side Up” e “Morning Glory”), a faixa consiste basicamente em experiências estereofônicas que buscam retratar sonoramente o café da manhã de Alan Stiles, um dos roadies do grupo. Na faixa, é possível ouvir o bacon fritando e alguém fazendo sua higiene pessoal. A música só foi interpretada uma vez ao vivo, tendo a banda, no palco, fritado o bacon e tomado café em frente a um incrédulo público.
O interessante do álbum é que, mais uma vez, o disco divide os membros. Roger Waters disse que esse disco deveria ser jogado no lixo e ninguém nunca mais deveria ouvi-lo. E que mesmo se hoje alguém lhe desse 1 milhão de libras para ele tocar o disco, ele não o faria. “Era um álbum muito pomposo e também não era sobre nada”, afirma. David Gilmour também compartilha a mesma opinião de Waters, tanto para Ummagumma (o disco anterior) quanto para Atom Heart Mother. Na sua opinião, “o disco é horrível. A ideia até que era muito boa, mas o disco em si foi terrível”. Segundo ele, foi o momento mais baixo da banda. Já Nick Mason o considera válido para aquele período, especialmente porque aprenderam muito sobre técnicas de gravação. No palco, a faixa favorita da banda era "Fat Old Sun", onde Gilmour começava a se firmar como um dos maiores guitarristas da década. O disco acabaria chegando ao topo da parada britânica, embora ficasse apenas na 55ª posição, na América. Seria uma nova era para a banda, que alcançaria o ápice três anos depois.
Atom Heart Mother é um álbum até hoje incompreendido por grande parte do público. Inegáveis são, contudo, a sua qualidade de vanguarda e a influência que causou na música, não só de um modo geral como também no próprio grupo. A idéia de disco conceitual foi a partir daí desenvolvida, influenciando vários outros grupos musicais. As inovações sonoras do álbum foram mais tarde desenvolvidas pelo próprio grupo em praticamente todas as outras obras da banda, com ou sem Waters.

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

É Tempo De… – Parte IV – Ummagumma (1969)



“ E um rio verde está escorregando invisível sob as árvores
Rindo enquanto passa pelo fim do verão
Indo para o mar ”
Imagine um louco preso em um quarto com nada além de um monte de instrumentos musicais! É… O resultado seria algo bem louco ou insano. Bom, o Pink Floyd tinha quatro loucos. E o resultado? Uma viagem de ácido por uma selva espacial, tendo a banda como guia. E este passeio o levará entre a fronteira da sanidade e da loucura. E também te levará por lugares e sons nunca antes vistos e ouvidos naqueles dias finais dos anos 60. E este passeio tem um nome… E se chama Ummagumma! Uma experiência como nenhuma outra. É o Pink Floyd no seu mais ambicioso e experimental trabalho, pelo menos até aquele momento!
Ummagumma foi um álbum duplo (parte ao vivo e parte em estúdio) gravado em 1969. O grupo estava trabalhando nesse álbum quando deu um tempo para gravar More, trilha sonora do filme homônimo. Logo após o término deste “trabalho extra”, o Floyd se tranca novamente em estúdio para gravar um novo disco autoral. Para muitos, Ummagumma - uma gíria de Cambridge para designar relação sexual - não pode ser considerado um disco do grupo, já que cada membro escreveu um tema próprio no lado "de estúdio", por sugestão do tecladista Richard Wright. "Esse não é um disco do grupo. O lado ao vivo soa, hoje em dia, incrivelmente antiquado, embora o show do Floyd no Mothers, em Birmigham tenha sido considerado um grande evento. Estávamos procurando uma maneira de montar um novo disco e a EMI era muito mesquinha nessa época e não tínhamos muitos recursos", relembra Nick Mason. O mais apavorado de todos nas gravações era Gilmour. Ele confessou que ficou tenso com a ideia, pois jamais havia escrito uma canção e não tinha ideia do que usar nas letras. "Liguei para Roger e pedi para ele me ajudar. Ele disse 'não' e desligou.”
Ummagumma é um disco onde a influência de Syd Barrett começa a desvanecer-se em favor das visões um pouco menos lunáticas e pastorais de Roger Waters. Mostrou a capacidade colossal do grupo, que os levaria a um patamar muito mais alto nos próximos trabalhos. Um disco com uma atmosfera melancólica e ligeiramente espacial, que começa a definir definitivamente o Pink Floyd. Ummagumma pode ser considerado o mais difícil álbum de se ouvir, mesmo para os fãs mais ávidos da banda, embora o grupo na época estivesse “apenas” experimentando diferentes abordagens musicais para as composições.
Os trabalhos solos são bastantes diferentes um dos outros. A parte de Gilmour, por exemplo, soa mais para um rock simples e muito bom, embora ele tenha dito depois que não gostou muito do trabalho final. A parte de Nick Mason também é excelente, mostrando o quão criativo baterista ele foi (e ainda é). Para aqueles que ainda não ouviram, a parte de Mason não se limita a solos de bateria e sim a “colagens” de sons envolvendo tambores. As últimas partes também são puramente “colagens”, algo que se poderia considerar como melodia, harmonia, etc. Ainda assim, é interessante ouvir!
A parte ao vivo foi gravada nos concertos em The Mother's Club in Birmingham, no dia 27 de abril de 1969 e no Manchester College of Commerce, no dia 2 de maio e é toda excepcional. Cada canção soa muito agradável de se ouvir. Curiosamente, nos créditos, constam que foram gravados no mês de junho, o que é incorreto. Ummagumma seria o primeiro lançamento oficial do Floyd pelo selo Harvest, ligada à EMI e foi o primeiro álbum do grupo a ficar entre os 100 primeiros na América, alcançando a 74ª posição. Na Inglaterra, alcançou o quinto posto. O disco teve um pequeno problema com a canção "Interstellar Overdrive". Ela seria usada no lado ao vivo, mas jamais entrou, por dois possíveis motivos: um seria referente à direitos autorais - havia sido escrita por Syd Barrett, o que é estranho, já que "Astronomy Domine", também composta por ele, estava no álbum. O outro motivo - e mais possível - é que ela teve problemas na fidelidade da gravação e acabou sendo dada como brinde a alguns amigos do grupo.
O LP trazia uma capa muito bem bolada, mantendo a filosofia de capas psicodélicas. São quatro fotos, uma dentro da outra, trazendo, em cada uma delas, um integrante sentado em um banco e os demais faziam poses diferentes, ao fundo. Biggin Hill, em Kent, foi escolhida para tirar a foto da contra-capa, onde aparece uma perua, equipamentos e dois roadies - Pete Watts e Alan Stiles - mostrando todo o arsenal do grupo. Alan Stiles seria homenageado na faixa "Alan's Psychedelic Breakfast", no disco Atom Heart Mother.
O LP trazia as seguintes faixas:
Disco 1 - Ao vivo
Lado 1
1. "Astronomy Domine" (Syd Barrett) – 8:29
2. "Careful with That Axe, Eugene" (Roger Waters, Rick Wright, David Gilmour, Nick Mason) – 8:50
Lado 2
1. "Set the Controls for the Heart of the Sun" (Waters) – 9:15
2. "A Saucerful of Secrets" (Gilmour/Waters/Mason/Wright) – 12:48
"Something Else"
"Syncopated Pandemonium"
"Storm Signal"
"Celestial Voices"
Disco 2 - Estúdio
Lado 1
1. "Sysyphus" (Wright) – 12:59 (on LP); 13:26 (on CD)
Part 1 – 4:29 (on LP); 1:08 (on CD)
Part 2 – 1:45 (on LP); 3:30 (on CD)
Part 3 – 3:07 (on LP); 1:49 (on CD)
Part 4 – 3:38 (on LP); 6:59 (on CD)
2. "Grantchester Meadows" (Waters) – 7:26
3. "Several Species of Small Furry Animals Gathered Together in a Cave and Grooving with a Pict" (Waters) – 4:59
Lado 2
1. "The Narrow Way" (Gilmour) – 12:17
Part 1 – 3:27
Part 2 – 2:53
Part 3 – 5:57
2. "The Grand Vizier's Garden Party" (Mason) – 8:44
Part 1: "Entrance" – 1:00
Part 2: "Entertainment" – 7:06
Part 3: "Exit" – 0:38
Enquanto o lado "ao vivo" foi produzido pelo grupo, Norman Smith ficou encarregado do de estúdio. O disco gerou elogios e críticas entre os membros. Gilmour o considera mal gravado e disse que pensaram em refazê-lo. Richard Wright concorda com o guitarrista, mas salientou que a experiência o ensinou muito em termos de composição e de estrutura. Ironicamente, demoraria 19 anos para o Floyd lançar um novo disco ao vivo, já sem Roger Waters, para se "redimirem", fato que aconteceu com Delicate Sound of Thunder. O terceiro disco ao vivo da banda seria P•U•L•S•E, de 1995.
Comentando um pouco mais a parte “de estúdio”, ela começa magistralmente, com batidas simbólicas e sons viajantes e melancólicos. E depois o piano entra, e é absolutamente incrível, embora, infelizmente, a felicidade não dure tanto tempo. Richard Wright começa a bater nas teclas como se não houvesse amanhã. Todo ritmo desaparece e a canção perde todo o controle. Acordes sustentados e “enlameados” estão rodando uns sobre os outros e notas aleatórias são jogadas sem qualquer ordem. É um completo caos. E isso não é nem a metade da música. As duas primeiras partes do Sysphus preveêm o resto da música. Esse começo é apenas um breve momento de beleza antes de descer para a loucura. Sysphus continua na parte 3 com uma percussão em todos os lugares e animais começam uma gritaria ameaçadora. É perturbador e desconfortável ouvir, mas,
mas, como em um filme de terror, suas mãos estão cobrindo seus olhos, mas ainda assim o deixam espreitar a sala, porque a sua curiosidade o faz continuar assistindo. Em seguida, a parte
quatro aparece, e lhe dá três minutos de ambientação e, em seguida, ela pára e um acorde de piano horrível continua tocando e ficando cada vez mais alto e você imaginando que a sua cabeça vai explodir, mas não o faz… E as notas cada vez mais altas junto com os acordes que apenas permanecem sustentados enquanto o teclado caótico é jogado. E a canção termina com o mesmo início majestoso. Lembra do louco preso no quarto com instrumentos? Pois é, eu te avisei!
A parte de David Gilmour mostra claramente a direção que o Pink Floyd estava tomando. Se Roger Waters viajava ao extremo no psicodelismo, Gilmour nos trazia de volta a realidade, colocando nossos pés no chão, para que saibamos que tudo aquilo que passou foi apenas uma viagem. A primeira música da sua parte mostra um violão tocando uma melodia acompanhado de efeitos de eco em segundo plano. Já a segunda tem uma guitarra funk profunda tocando enquanto efeitos espaciais ao fundo criam uma paisagem espacial e escura. Esta paisagem espacial vai desaparendo dando vez a parte três que começa lindamente. Um coro forte começa e é a melodia mais bonita do disco. Gilmour começa a cantar acompanhado de um piano e a canção dos dá uma sensação de sonho escuro e ao mesmo tempo é relaxante e calmante, o que é raro neste disco. Os mesmos efeitos de ecos espaciais entram e complementam a música perfeitamente. O piano e a guitarra tocam juntos, até os sons desaparecerem por completo. É uma canção de sonho, mas também de medo e assombração.
Talvez a faixa mais interessante seja a de Roger Waters, "Several Species of Small Furry Animals Gathered Together in a Cave and Grooving with a Pict", que traz uma mensagem escondida entre os minutos 4:32 e 4:33. Se você colocar o vinil em meia velocidade ouvirá David dizendo "This is pretty avant garde, isn't it?". Não tenho ideia de como você pode ouvir esta mensagem no seu ipod ou mesmo naquele velho MP3 no seu computador.
Dessa maneira, o Floyd lançava um disco "individual" feito pelo grupo. "Éramos realmente individualistas", confessou Nick Mason, que levou sua esposa Lindy para tocar flauta em "The Grand Vizier's Garden Party", de sua autoria. O próximo disco, Atom Heart Mother, o famoso "disco da vaca", seria o primeiro a ter o "verdadeiro som" do Pink Floyd, ainda que Gilmour o odeie até hoje.
Definitivamente, Ummagumma não é o trabalho mais acessível e audível do Pink Floyd. Somente três, das cinco músicas do álbum de estúdio possue ritmo e não tem ruídos por todos os lados. Embora ambos os álbuns sejam bons, nenhum deles consegue-se ouvir casualmente, principalmente o álbum de estúdio. É um disco recomendado para os fãs de Floyd e também para quem gosta de música experimental. É um album único e marca o início do Pink Floyd para a sua grandeza.

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

É Tempo De… – Parte III – More (1969)


 “A borboleta com asas quebradas
está caída ao teu lado
Todos os corvos estão perto
não há onde você possa se esconder ”
Se você não possui o disco Echoes: The Best Of, é provável que você nunca tenha ouvido falar de More! Por quê? Porque nem sequer o próprio Pink Floyd considerava este disco um verdadeiro álbum do Pink Floyd. E você também notará isso ao ouví-lo. De fato, More não se encaixa no caminho musical que o grupo estava trilhando no momento. Menos de 1 ano após a saída de Barrett (dando lugar a David Gilmour) e da estréia do psicodélico clássico Piper At Gates Of Dawn, o novo Pink Floyd estava lutando para encontrar uma nova maneira de seguir em frente. O álbum foi feito sob encomenda, a pedido do diretor francês Barbet Schroeder, para compor a trilha sonora do filme homônimo. Foi o primeiro trabalho de Shroeder como diretor. Pouco é conhecido sobre a gravação do álbum, porém, segundo Roger Waters, a trilha sonora foi um tipo de “favor pessoal”. As canções foram gravadas em apenas uma semana durante o mês de março de 1969, na mesma época em que um outro trablho estava sendo produzido (a banda interrompeu a gravação deste disco por alguns dias para trabalhar no álbum More). O disco revela uma banda mais bucólica, contendo momentos que flertam com o Heavy Metal e com o Blues. Aqui Roger Waters já começa a demonstrar sua capacidade como letrista competente. Vale ressaltar que More foi o primeiro álbum totalmente produzido pelo Pink Floyd.
O filme conta a história de Stefan, uma estudante alemã, que vai para Ibiza e que se envolve com drogas, especialmente a heroína. O filme não faz muito sucesso e, segundo David Gilmour, o diretor Schroeder, que mesmo conhecendo bem a língua inglesa, fez um roteiro sem força, usando gírias fora de contexto e de forma errônea. O filme fez sua estréia no Festival Internacional de Cannes, em 13 de maio de 1969, e a trilha-sonora foi lançada em junho. Não se sabe o motivo, mas duas músicas que aparecem no filme e composta e pela banda não constam no disco: "Seabird" e "Hollywood".
O LP trazia as seguintes faixas:
Lado A
1. "Cirrus Minor" (Roger Waters) – 5:18
2. "The Nile Song" (Waters) – 3:26
3. "Crying Song" (Waters) – 3:33
4. "Up the Khyber" (Nick Mason, Richard Wright) – 2:12
5. "Green Is the Colour" (Waters) – 2:58
6. "Cymbaline" (Waters) – 4:50
7. "Party Sequence" (Gilmour, Mason, Waters, Wright) – 1:07
Lado B
1. "Main Theme" (Gilmour, Mason, Waters, Wright) – 5:28
2. "Ibiza Bar" (Gilmour, Mason, Waters, Wright) – 3:19
3. "More Blues" (Gilmour, Mason, Waters, Wright) – 2:12
4. "Quicksilver" (Gilmour, Mason, Waters, Wright) – 7:13
5. "A Spanish Piece" (Gilmour) – 1:05
6. "Dramatic Theme" (Gilmour, Mason, Waters, Wright) – 2:15
Cirrus Minor é uma música com um clima onírico. Inicia-se com cantos de pássaros que se prolongam durante o primeiro minuto. Os primeiros acordes de violão começam a ecoar e a voz agradável de David Gilmour emite os primeiros versos. No último verso a voz parece se distanciar para dar lugar ao órgão de Richard Wright que constrói um ambiente celestial. Os pássaros voltam a cantar no final.
The Nile Song é a canção que fala sobre o dia em que Stefan conheceu Estelle. É uma composição bem pesada e com uma sonoridade um pouco suja. A voz de David Gilmour está irreconhecível.
Crying Song nos passa uma sensação de angústia, principalmente o triste solo de guitarra no final. É uma canção essencialmente acústica, acompanhada por teclado e contra-baixo.
Up The Khyber é basicamente um solo de bateria de Nick Mason com algumas passagens de teclado de Rick Wright. Essa música foi criada para compor uma cena de sexo anal que foi cortada do filme. “Khyber” é uma gíria usada no subúrbio londrino e significa traseiro.
Curiosidade: “Khyber” também é uma passagem que liga o Afeganistão ao Paquistão. Nota-se que o Afeganistão é o maior produtor de ópio do mundo (matéria-prima da heroína) e o filme conta a história de viciados em heroína.
Green Is The Colour é uma belíssima música acústica, contando com a participação da mulher de Nick Manson na época, Lindy Mason, nas passagens de flauta. Com quase três minutos de duração, é considerada uma das melhores música do disco. A voz de David Gilmour é um dos destaques, assim como o piano de Wright ao final.
Outro grande destaque do disco é Cymbaline, cantada por David Gilmour. No filme essa canção é cantada por Roger Waters e o verso “Will the tightrope reach the end? Will the final couplet rhyme?” (coincidentemente ou propositalmente o último verso não rima) é substituído por “Standing by with a book in his hand/It’s an easy word to rhyme”. A atmosfera criada pela música é depressiva, como já era de se esperar em um filme com um tema pesado.
Party Sequence é uma música percussiva pontuada em alguns trechos por flauta. Nada de atrativo.
Main Theme é baseada praticamente nos teclados de Rick Wright. Em alguns momentos uma guitarra com slide se incorpora à música. Somando tudo às batidas simples de Mason, tem-se uma canção agradável e com um clima oriental.
Ibiza Bar é uma espécie de irmã gêmea bivitelina da canção The Nile Song, porém contém uma sonoridade menos suja que esta.
More Blues, como o próprio nome demonstra, é um blues sem grandes atrativos. Mesmo assim é outra música agradável.
Quicksilver é praticamente composta por teclados e cria um ambiente fúnebre, de suspense.
A Spanish Piece é uma canção curta, tocada à moda espanhola (música flamenca). Há algumas frases inaudíveis. Na versão para o filme, um bandolim é tocado em A Spanish Piece (a única vez que a banda utilizou o instrumento).
E finalmente Dramatic Theme encerra o álbum. Contra-baixo em destaque, com solos de guitarra e os pratos da bateria pontuando toda a canção.
Há uma música que foi deixada de fora do disco: Seabirds. Não se sabe por que ela foi omitida do álbum, pois trata-se de uma canção com uma bela melodia.
More marca o início da procura da banda por uma identidade própria e o início do domínio criativo de Roger Waters. O Pink Floyd ainda gravaria mais duas trilhas sonoras: algumas músicas para o filme Zabriskie Point de Michelangelo Antonioni e a trilha do filme La Valeé do próprio Barbet Schroeder intitulada Obscured By Clouds.
Pesquisando sobre o álbum, achei um depoimento de um fã que ouviu esse disco meio que doidão (acho eu), a perceber pelas viagens de interpretação de cada música. Não pude deixar de publicar aqui em Noites! :)
Recomendo colocar o cd e ouvir a música enquanto lê e imagina as palavras de cada definição...
1 - Cirrus Minor
Passarinhos voam pelos nossos cérebros conduzindo para mais uma viajem psicodélica quando começam as vozes acompanhadas dos teclados celestiais de Ricky Wright. Olho a volta e vejo alguma coisa estranha, muito diferente do convencional, a princípio o eco mixado dessa voz atrai meu corpo para baixo como se fossem trombetas que anunciavam a chegada de algum novo som não identificado.
2 - The Nile Song
Ah acordei repentinamente com uma explosão sonora que emana-se do horizonte marinho. Ondas realmente altas quebram quando rebatem nas paredes e nos tímpanos. A voz agora apresenta-se gritada e sofrida, um pouco diferente do convencional dessa voz que eu já ouvi em outros lugares e ocasiões. Os ritmos são constantes e barulhentos, harmonizam-se perfeitamente com a música, sempre criando diferentes ruídos com as mesmas sensações.
3 - Crying song
Sinto meu corpo relaxar novamente, ouço vozes suaves em meus ouvidos que dizem sorrir. A percussão antes barulhenta torna-se também suave harmonizando a música.
4 - Up the Khyber
Tudo está girando e eu ouço aquela mesma percussão agora bastante solada, lembrando um bom e velho blues. Sons misteriosos percorrem o estéreo dando uma sensação de movimento, eles vem pausadamente e inconstantemente, seguidos de outros sons estranhos que vem e vão de pouco em pouco. As vozes se calam...
5 - Green is the colour
Sumiu o barulho e eu apenas relaxo com um som repetitivo e um canto capela que acompanha, belos traços distribuídos em um curto tempo.
6 - Cymbaline
O barco balança para os dois lados e o profeta anuncia suas palavras de cima da proa. Todos ouvem atenciosamente enquanto apenas um promove-se um pequeno som também com seu tom calmo e ditador... Logo a emoção toma conta de nosso narrador que é acompanhado pelos outros sons...
7 - Party Sequence
O narrador silencia suas palavras e seu acompanhador instrumental começa a narrar a batalha que deve continuar enquanto todos dançam incessantemente ao redor daqueles que perdem seu sangue.
8 - Main theme
Então um de seus competidores encerra sua fase terrena. A alma sobe com uma batida de percussão que preenche a todo o ambiente dando uma leve sensação de liberdade. No fundo passam desapercebidos alguns flaches diferentes que se repetem, logo, ouço alguns pequenos movimentos de cordas que vem e vão junto com a música.
9 - Ibiza Bar
Estranho, acho que já estive por aqui antes, mas algo mudou... A voz já não diz as mesmas palavras e a intensidade de sensações não é tão forte. Esse lugar é quase igual àquele onde fui derrubado pelas ondas que me levavam rapidamente e furiosamente para um lugar indefinido. Bom ainda assim continua mantendo uma certa originalidade e nem tudo é igual, mas preciso sair daqui...
10 - More Blues
Cansei, e assim segue o ambiente desgastado enquanto os músicos do bar aquecem a apresentação... É diferente afinal só ouço as mesmas cordas e leve percussão de antes.
11 - Quicksilver
Comandante, abram as portas da nave, precisamos partir... Só um minuto estou arrumando algumas coisas e talvez leve tempo, pronto...
Após dois minutos...
Senhor, vejo algumas coisas estranhas lá fora, vamos mais devagar afinal parecem se mover e produzir um som estranho, como teclados amplificados...
12 - A spanish peice
Ha, me sinto um pouco agitado, preciso tomar um trago e aspirar a alguma coisa... Estranho esse lugar me lembra a Espanha e algumas pessoas dançando aquela estranha dança.
13 - Dramatic Theme
Não tenho mais tempo, quem sabe eu possa correr nesses corredores. A percussão de antes agora acompanha meus passos e olhares e eu sinto que outros sons me perseguem como cordas no fundo do corredor, seguindo meus passos de longe, só observando... Sinto que talvez ela possa me pegar, mas não tão cedo...
Pronto agora ela já não me encontra mais e o silêncio vai chegando sucedido de ecos da corda despedaçada.