quarta-feira, 17 de janeiro de 2007

A Um Ausente...

Tenho razão de sentir saudade,
tenho razão de te acusar.
Houve um pacto implícito que rompeste
e sem te despedires foste embora.

Detonaste o pacto.
detonaste a vida geral, a comum aquiescência
de viver e explorar os rumos da obscuridade
sem prazo sem consulta sem aprovação
até o limite das folhas caídas na hora de cair.

Antecipaste a hora.
Teu ponteiro enlouqueceu, enlouquecendo as horas.
Que poderias ter feito de mais grave
do que o ato sem continuação, o ato em si,
o ato que não ousamos nem sabemos ousar
porque depois dele não há nada?

Tenho razão para sentir saudade de ti,
de nossa convivência em falas camaradas,
simples apertar de mãos, nem isso, voz
modulando sílabas conhecidas e banais
que eram sempre certeza de segurança.

Sim, tenho saudades.
Sim, acuso-te porque fizeste
o não previsto nas leis da amizade e da natureza
nem nos deixaste sequer o direito de indagar
porque o fizeste, porque te foste.


(Carlos Drumond de Andrade)

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A exatamente 12 anos meu papai partiu para o céu, para ajudar Deus a iluminar ainda mais o céu com toda a sua energia... E ele sabia muito bem como fazer isso, tanto como pai, como homem e como marido que foi... Uma pessoa que deixou uma lacuna grande, muito grande mesmo e que até hoje a saudade faz doer forte no peito... E o céu ficou mais, muito mais bonito e muito mais iluminado... :~)

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